quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ENTÃO É NATAL...

Tive natais maravilhosos. O natais de infância foram sensacionais, pois fruto da primeira geração da família nascida no Brasil, e já com uma situação financeira boa, eles foram recheados de comida farta, decoração bonita, muitos presentes, e o principal, uma família unida.
O aniversariante era sempre lembrado, pois meu avô português era muito religioso, e missa era obrigatória. Apesar de meu pai, ter se tornado ateu...
Passávamos sempre na casa dos avós paternos, onde jantávamos na mesa grande, cercada dos avós, pais, irmão, tios e primos. Lá iam também alguns vizinhos, todos portugueses, num entra e sai sem parar. Muito vinho, e o impressionante, ninguém ficava bêbado...rsrs
Uma vez comi 25 bolinhos de bacalhau, claro que eram pequenos, mas foram contados pela minha avó, que fritava e eu comia... Depois fiquei anos sem poder olhar para os tais bolinhos...rsrs
Quando tinha adesão de outros amigos portugueses, meu avô colocava a mesa ampliada, no quintal da enorme casa, e lá sentavam muitas pessoas; um jantar luso, com lombo de bacalhau, muito azeite, os tais bolinhos, frango para os que não gostavam de bacalhau, leitão, vinho e sobremesas maravilhosas. Uma verdadeira orgia gastronômica, que minha avó fazia sozinha.
O pinheiro do jardim era enfeitado com flocos de algodão, e eu nem achava aquilo cafona, e corria quando o vento soprava os floquinhos, pra colocá-los no lugar.
Tinha um presépio no jardim, numa casinha de madeira, feita por meu avô. De noite, ele ficava iluminado. Lindo!!!
Ainda posso ouvir o burburinho das vozes, sotaques fortes, eu correndo com os primos - os mais velhos escutando música, e minha avó reclamando do som alto.
Brigas políticas também ocorriam - meu pai, homem de esquerda, contra meu tio, irmão dele, um extremista de direita. Minha avó, sempre ela, aparando as arestas, e mandando pararem com isso, e lembrava do aniversariante... JESUS!
Depois, íamos para casa dos avós maternos espanhóis Lá tudo era mais calmo, pois não havia crianças. Eu e meu irmão éramos os únicos netos, pois meus dois tios não tiveram filhos. Mas uma coisa acontecia quando chegávamos para a ceia de meia noite.Éramos a alegria da “festa”, paparicos por todos os lados, e a “saudável” mentira de que papai Noel já havia passado e deixado os brinquedos lá.
Abria os presentes com gula, sem ainda imaginar que quantas crianças iguais a mim, nada tinham pra comer, nem brincar. Eu, na minha doce ingenuidade, achava que o mundo era bom, e que todos tinham uma família como a minha.
Na madrugada, voltávamos pra casa. Colocava meu sapato na janela, e dormia excitada, imaginando que outras novidades o bom velhinho me traria.
Na manhã seguinte, era de novo festa. Almoço na casa dos avós maternos, e jantar na paterna. Muita comida, afeto, alegria, sonhos, abraços, beijos, e presentes.
O tempo passou. Os netos cresceram, casaram, um bisneto nasceu, meus 3 avós morreram.E o natais foram ficando diferentes.
Também casei, tive filho, e minha avózinha materna, insistindo em fazer o natal em sua casa. Aí resolvi assumir o papel de “matriarca” e fazer nossos natais.
Fiz tudo que tinha direito. Queria oferecer ao meu filhote, os seus melhores natais.Ele filho, neto, e bisneto único, sem fazer dele um menino chato, nem mimado.
Durante anos decorei a casa, como ninguém, coisa de louca mesmo, pois até o quarto dele tinha decoração natalina, com direito a árvore, e tudo mais.
A alegria do meu menino era tudo - iluminava nossas vidas. Ele costumava “roubar” o menino Jesus do presépio da sala e colocá-lo no quarto dele. Lembranças doces.
Contei a ele a história do aniversariante, ele ficou emocionado, e fez muitas perguntas... Como se eu pudesse responder a todas as perguntadas do mundo....
Um dia, ele com uns 5 anos, me chamou pra uma conversa séria. Sentados na cama, ele, com os olhos cheios de lágrimas, me perguntou: Papai Noel existe??? E completou: um
amigo da escola, disse que não existe.Diante daquele olhar, resolvi perguntar uma coisa: Você gostaria da verdade, né?
Ele, já com as lágrimas correndo no rosto, balançou a cabeça, que sim...
Olhei aquele rosto lindo em lágrimas, e mentindo, disse que ele existia, pois achei que era a “verdade” que ele queria ouvir. Ele sorriu, limpou o rosto e saiu correndo. Nunca mais me perguntou nada sobre papai Noel. A transição para a descoberta foi tranqüila, ele não mais chorou...
Tempo passou, como sempre... A avó se foi, minha mãe também. O filhote cresceu, mas nos mantivemos firme, união é importante, e lembrar “dele” faz bem a alma.
0s natais passaram a ser mais solidários, eu, dando os brinquedos novos e roupas dele, para orfanatos, e mostrando o outro lado da vida.
Esse ano vai ser a primeira vez que meu filhote vai passar o natal longe. O pássaro está deixando o ninho, preferiu ir viajar com os amigos, pra um outro país.
Assim como os pássaros, vou olhar pra meu ninho vazio e agradecer por ter podido ter a companhia dele durante todos esses anos, mas que agora é hora.
Hora de voar alto, lindo, saudável, sem vícios, educado e com muito amor por nós. Vai meu filhote, descobrir novos caminhos, e lembre-se, pra sempre, dos nossos natais.
Que um dia vc possa reproduzir aqueles natais para seus filhos e se lembre sempre do aniversariante, das coisas que ele pregou, e dessa família que muito lhe ama.
FELIZ NATAL, VINÍCIUS!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

PARA SEMPRE ELVIS

Fui caminhar no bairro da Urca. A vista da Baia da Guanabara me acalma, e faz muito bem a minha retina. Na metade da caminhada, sou pega de surpresa por uma dessas chuvas forte de verão.
Não corro, afinal iria me molhar de qualquer jeito, pois tinha deixado o carro há mais de 2 km , de onde estava.
A chuva bateu forte, roupas coladas no corpo, totalmente molhadas, lavaram minha alma. Sem pressa fui até ao final de meu destino, retornei, e mais uma vez confirmei que as pessoas que já estão molhadas, na praia, quando chove, correm pra se abrigar. Por que será? rsrsr
Na volta, presa no engarrafamento de um fim de tarde, escuto o rádio, e observo a chuva, que teima em continuar caindo.
De repente, ele começou a cantar... Elvis, tão raro no rádio, chegou pra me encantar, e me trazer lembranças da minha vida em família.
Meus pais adoravam Elvis Presley, ele embalou a adolescência deles, e eu passei minha infância, escutando Elvis. Independente dele “estar” fora de moda...
Tinha também, alguns filmes que passavam na TV, onde se via um homem belo, de um rosto apaixonante, cantando maravilhosamente bem.
Eu que tinha dele uma imagem de juventude e beleza, fiquei surpresa ao vê-lo como uma figura bizarra, e logo depois a morte.
Na verdade apaguei aquele famoso vídeo, onde ele aparece inchado, com uma roupa cafona, suarento, cansado, totalmente decadente. Para mim, ele era uma figura “velha”, estranha, enfim, não batia com “aquele” outro.
Na minha pouca experiência de vida, não tinha noção do que se passava no mundo de Elvis, nem tinha, ainda, capacidade e maturidade para entender.
Aos poucos ele foi saindo de cena, na minha casa, e da minha vida. Nova trilha sonora tocava na família, e os meus gostos foram ampliados, e eu já nem escutava os que os pais ouviam.
Reencontrei Elvis, muitos anos depois, através de outras pessoas que gostavam dele, mas ele continuou escondidinho dentro de mim.
Com a internet, passei a “baixar” músicas, pesquisar no you tube, e ele renasceu na minha história.
Pude perceber algumas coisas nele. Li “biografias” não autorizadas, e fui tendo um carinho especial por esse homem morto, que foi “mito”, em vida, mas que sofreu como qualquer mortal.
Passei a me questionar, os motivos pelos quais as pessoas de tanto sucesso, acabam de certa maneira, da forma como ele terminou. Depressivos, envolvidos com drogas, com vidas afetivas complicadas, explorados, mal amados, frustrados, usados e alguns mortos precocemente.
Aconteceu com Jimi Hendrix, Janis Joplin, Michael Jackson, Carmem Miranda, entre tantos ídolos, com problemas, só pra citar alguns...
Carmem Miranda, que “conheci”, através da ótima biografia de Ruy Castro, era “dona” de uma personalidade adorável. Alegre, independente, líder, extrovertida, amiga dos amigos. Que mesmo assim, foi “contaminada” pela síndrome do sucesso, e acabou literalmente, “sendo morta” por excessos de remédios para dormir, aos 46 anos de idade.
Voltando a ele. Elvis foi um ídolo, não só para geração dele, mas um divisor de águas, entre um mundo ainda ligado a grandes orquestras, e alguns cantores clássicos.
Elvis “jogou” no mundo o “Rock and Roll”. Com ele veio o direito do homem dançar sensualmente, sem ser julgado homossexual. Elvis era sexy!
Toda uma geração se espelhou nas atitudes dele, que era um “bom rapaz”, que adorava a mãe, e muito dependente desse sentimento. Ao contrário de outro ícone da época, James Dean, Elvis tinha família, era sentimental, nada revoltado, queria apenas ser sucesso. Afinal, conseguiu...
O restante da história, todos nós sabemos. O belo Elvis, que poderia ter todas as mulheres do mundo, como simples ser humano, se apaixonou pela linda Priscila, com ela casou, mas casamento não é conto de fadas, e a musa foi embora, talvez cansada, das bebedeiras, da montanha russa dos sentimentos desconectados, e com ela levou a única filha do casal.
Daquele momento em diante, o ídolo caiu de vez. Sem amparo sentimental, a mãe já tinha morrido há tempo, e sem aquele grande amor, Elvis se mostrou frágil, manipulado, usando cada vez mais remédios para depressão, e para dormir. Com tendência a engordar, perdeu a figura sensual, envelheceu precocemente, afundou...
Fiquei imaginando um diálogo impossível, entre eu e ele. Seria uma “viagem” no tempo.
Eu uma pessoa de outra geração, que nasceu no Brasil, de mundos diferentes, sentaríamos nos jardins dos meus avós, daquela casa que já nem existe mais, cercados pelos jasmins, damas da noite, e bouganvilles, plantados pela minha avó. Naquele banco de madeira feito pelas mãos calejadas do meu avozinho português, travaríamos uma conversa de horas. Aquelas que só temos com grandes amigos, e mesmo assim, com muitas afinidades...
Falaríamos de amor, dos nossos medos, em que momento ele se perdeu, e da falta que faz a gente não ter contado com nosso mundo interior. Falaríamos de como a autoestima é importante, e de como o amor próprio é fundamental pra sobrevivência de qualquer ser humano.
Depois ele iria se levantar, beijaria as minhas mãos, e sumiria no escuro da noite... com um breve: Espero você lá...
Talvez, quando esse dia chegar , eu o encontre já refeito das mazelas humanas, lindo, sorridente e cantando, só para mim, “Love me Tender”...
E, devolvendo aquele sorriso, eu afirmaria: Agora é para sempre!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

SIMPLES DESEJO!

De repente pensei nas coisas simples que me fazem feliz.
Como gosto de coisas, que não dependem de ninguém, ou melhor, que estão lá, só para serem usufruídas, é fácil e simples relacionar...
Bem, algumas precisam de uma ajudinha alheia, mas se não acontecer, vivo outras coisas...
Então, vamos lá...!
Ver a Baia de Guanabara, do bairro da Urca, é algo que todos deveriam fazer antes de partir desse mundo.
Um passeio na Lagoa, de bicicleta, sentindo seus contornos, é de tirar o fôlego.
Sentar na Pedra do Arpoador e olhar o mar, depois dar um mergulho, e com a alma lavada, ficar pronta para os nãos da vida, faz um bem enorme.
Tomar suco de morango com laranja, também é bom; e sorvete de pistache? Hummm!! Delícia!!
Ficar horas no telefone, com um amigo (a) querido (a), com quem a gente tem mil afinidades, é tri, como dizem os gaúchos... rsrsr
Conversar com desconhecidos, e descobrir que são inteligentes, e bom de papo, cai muito bem...
Tomar água de coco, no mirante do Leblon, com uma das vistas mais bonitas do mundo, também é gostoso...se for com uma companhia bacana, melhor ainda.
Aquela pipoca com queijo da esquina, eu não resisto, e quer saber; o pão na chapa, cheio de manteiga, da padaria do bairro, também não.
Os doces portugueses? Como sem culpa, depois vejo o prejuízo, mas na hora, vou fundo...!
Adorooo escutar música alta, ou então sou radical, com fones nos ouvidos, e os vizinhos agradecem.
Dançar na sala, também é legal, se for acompanhada, é ótimoooo!
Caminhar de mãos dadas também é muito bom, e aquele beijo sem razão? Aliás, existe beijo sem razão? rsrsrs
Dar um cheiro no cangote, e sentir o perfume dele, é demaissss!
Ler um bom livro de uma só vez, é um mergulho fundo na fantasia, e vale mais que uma sessão de terapia...
Telefonar para os pais, e dizer que gosta deles, pode assustar, mas é muito bom, e faz bem...
Fazer um chamego, nos cachorros da rua, pode acabar em mordida, mas ninguém paga o olhar carente e agradecido de um cão abandonado, acarinhado...
Trabalhar em algo que nos dê um prazer imenso, também é super, até passa a ser lazer.
Sair com os amigos, falar besteiras, rir muito, é melhor que fazer plástica rejuvenecedora...rsrsr
Ver o por do sol, em Ipanema, é de agradecer por ter nascido nessa cidade.
Andar numa trilha, no meio da mata, pela manhã, cercada de passarinhos, também me faz muitooo feliz.
Ter recebido aquele mãeeeee, do filho de 3 anos, quando ia para o trabalho, e o ver correndo para os meus braços, é inesquecível.
Ser feliz, ao contrário de ter razão, faz bem demais.
Ouvir: “Cala a boca e me beija”, é muito melhor que ouvir: Você está certa...
Ficar de mãos dadas, com avó doentinha, pode dar um aperto no coração, mas fica pra sempre, na lembrança, esse momento de ternura e amor.
Aquele abraço apertado, dado pela grande amiga, não dá para esquecer, e como consola...
Sentar no cinema, com uma barra de chocolate branco, mas preto também serve, e ver um filme legal, no meio da tarde, também é um super desejo, e fica um gostinho bom na alma.
Receber um torpedo, e-mail, telefonema, bilhetinho, etc., dizendo que gostam da gente...Poxa! É demais!!
Na falta disso, olhar para o espelho e pensar; garota você é maravilhosaaa! Também ajuda...rsrsr
Tomar um banho demorado, passar um hidratante de morango com champagne, no corpo, soltar os cabelos ao vento, para que ele seque, assim, livre. Um pouco de baton, cor de boca, colocar uma sandália confortável, um jeans surrado, aquela blusa preferida, e duas gotas de perfume na nuca. É maravilhoso!!!
Ter um dia inteiro pra curtir, e saber que todos os dias deveriam ser assim, pelo menos na imaginação, também não tem preço, e vale a pena viver...!
* Os locais citados, ficam localizados no Rio de Janeiro/Brasil

terça-feira, 16 de novembro de 2010

CAÇADORA DE BEIJOS

Amo viajar, conhecer novas culturas. Como sou profundamente observadora, nada me escapa. Gosto de ver a vida, dos diferentes de mim, até por achar que, no fundo, todos somos muito iguais, pois sempre buscamos ser felizes, independente da cultura que nascemos. Porém a minha felicidade pode ser diferente do que seria para um esquimó.
Não sou consumista, aliás, sou péssima compradora. Limito-me a ver o artesanato local, algumas lojas bacanas e a comprar perfumes no Duty free.
Quero ver gente, paisagens, conversar, sentir o charme local, comer coisas diferentes, mesmo quebrando a cara...rs
Adoro me perder em vielas, becos, pois sempre descubro algo novo, inusitado.
Muitas vezes, sento em um banco de jardim, outras num bistrôzinho escondido; já fiquei um bom tempo na escadaria da Praça de Espanha, em Roma, sentido as pessoas, observando seus hábitos, modo de falar, suas vidas...
Num inverno infernal da fria Nova York, comecei a perceber que todos os passantes que estavam juntos, nunca demonstravam nenhum ato de carinho. Aí virou obsessão, queria flagrar um beijo, um simples beijo.
Fiquei uma semana na cidade, fui a vários lugares, andei pelas ruas, no Central Parque, grandes lojas, na Estatua da Liberdade, restaurantes, enfim todo roteiro turístico, e não turístico, já que era a primeira vez que meu filho ia à cidade, e eu queria mostrá-lo tudo.
Não consegui “pegar” nenhum beijo, e o pior, nem mãos dadas. Percebi que mesmos os casais, com filhos, pouco se tocavam, e nem as crianças eram beijadas em público.
Sentia que algumas pessoas se namoravam, pelo modo como conversavam, mas mesmo essas não se tocavam, nem se abraçavam. Não consegui uma fagulha de desejo, de sensualidade explícita, de algum toque mais ousado. Logo eu, que falo com as mãos, e vivo tocando meus afetos.
Depois, embarquei para a Disney, continuando meu roteiro infanto/ juvenil, e lá continuei caçadora de beijos, pois era assim que eu me sentia.
Nova desilusão, pois nada de conseguir flagrar um ato de carinho rasgado, um olhar mais fundo, uma mão provocante de uma pessoa apaixonada e cheia de desejos... nada.
Claro que, em todos os Estados Unidos, alguns se beijaram, outros se abraçaram, mas diante dos meus olhos, isso não aconteceu.
Cada cultura tem sua forma de demonstrar amor, afeto, carinho, desejo. Compreendo isso e respeito, porém, para uma lusa/galega/carioca, não abraçar, beijar, demonstrar carinho explícito, é quase uma heresia.
Acho impossível, estar amando, seja namorado, marido, filhos, pais, amigos, sem dar um abraço apertado, uma mexida nos cabelos, um carinho no rosto, um beijo gostoso, na pessoa amada, mas cultura é cultura. Cada um na sua, mas no fundo quem não gosta de carinho inesperado, um sorriso cativante, abraço sem esperar, e até aquela declaração louca, para passantes desconhecidos que se ama aquela pessoa, que está ao nosso lado... rsrsr
Enfim, salve a cultura latina, que consegue demonstrar seus afetos sem maiores pudores.
Bom é beijar sem culpa, andar de mãos dadas, seja em que tempo for, abraçar apertado, e sentir que viver nossos sentimentos com liberdade, ainda é a melhor opção.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

UM GATO CHAMADO ZIDANE



Tive gato na infância, mas precisamente uma gatinha. Ela viveu 8 anos e morreu de forma triste...
Depois disso, apesar de amar os gatos, não quis mais nenhum. De um tempo para cá, comecei a sonhar com gatos, e da sua amorosa companhia a distância, pois são todos muito independentes.
Sempre me senti meio felina, pois adoro estar junto com as pessoas, porém amo ficar só também...
Pensei em adotar, um vira lata. Imaginava toda uma vida nova, com meu gato.
Resolvi escolher um nome, seria ZIDANE, mas chamaria, na intimidade de ZIZU, igual ao jogador francês e charmoso.
O tempo passou e a vontade também. Certas coisas se não acontecem na hora, passa o desejo. ZIDANE ficou numa história não concluída, num sonho não mais sonhado.
Deu preguiça, passou...!
Pra minha surpresa, ZIDANE já existia e fui encontrá-lo bem distante do meu mundo.
Viajei no mês passado, e numa ilha da Grécia, mas precisamente em Santorini, ele estava lá, esperando a vida inteira por mim.
Foi um encontro rápido, mas fulminante. Encontramos-nos num restaurante, ele me viu primeiro, deduzo, pois só o senti quando ele andava pelas minhas pernas, por debaixo da mesa. Levantei a toalha e dei de cara com ele, seu olhar era penetrante, olhar de ZIZU, ele miou. Estaria com fome? Mesmo sendo ali um restaurante??? Tenho que esclarecer uma coisa. É normal, tanto na Grécia, quanto na Turquia gatos e cachorros nas ruas, mas ao contrário do que no Brasil, lá o poder público castra, vacina, mas não os recolhe e a população continua jogando seus animais fora.
Bem, foi paixão à primeira vista, claro que dei comida do meu prato pra ele. Aliás, detesto ração, pois a acho cancerígena. Isso durou todo o tempo do longo almoço. Ele não se afastava de mim. Chegando ao fim, hora da despedida, alisei sua cabeça, bati uma foto, para não esquecer e segui pelas vielas da ilha.
Entrei em vários becos , subi e desci escadas e de repente,olhei para baixo e ele estava lá, me seguindo.Nunca vi gato bicho seguir ninguém...rsrsrs
Não resisti e peguei no colo, ele fechou os olhos, como se tivesse encontrado um porto seguro. O restante do passeio foi com ele no meu colo, e eu me perguntando, e agora que faço com esse amor???
Não queria ver mais nenhuma paisagem, queria saber que fazer com ZIDANE, como poderia embarcar com um gato, sem nenhum dado, sem certificado de vacinas, e ainda tendo cidades para conhecer?
Era uma tortura, aquele amor peludo, lindo, amoroso, estava me fazendo mal.
Eu me perguntava, mas gato é tão independente, que carência é essa ?
Sentei no chão e o soltei, ele ficou a me olhar, com jeito de quem nada estava entendendo, um olhar interrogativo, olhar de quem desconfia que vá ser abandonado...
Conclui que ZIDANE chegou na hora errada na minha vida, não era o momento, não era a minha vontade, não iríamos viver uma história de amor, nem cumplicidade, doação, nem eu poderia cuidar dele, naquele instante...
Deixei ZIZU ir, mas ele não queria, e ficou parado, só me olhando, como se dissesse:
- Você me conquistou e agora me abandona!
Resolvi deixá-lo na porta do restaurante onde ele me encontrou, falei com o atendente, e ele me confirmou que ZIZU, era um gato de rua, mas que eu podia deixar por lá mesmo. Coloquei-o no chão, evitei olhar muito e sumi nos becos, com um medo atroz de ser seguida e não resistir aquele olhar carente de amor.
Agora tenho certeza, ZIDANE existe, mora na Grécia, e será eternamente meu.

sábado, 2 de outubro de 2010

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE




Quando comecei esse blog, minha ideia era não postar nada que fosse de autoria alheia. Porém, a crônica de RUBEM ALVES, é por demais inteligente, verdadeira, deliciosa, e até cômica, se não fosse real, e não resisti...
Fico com o sentimento de que o "amor é chama", mas torcendo para que o poeta esteja errado...rsrsrs
Beijos
Nádia


ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE!

(RUBEM ALVES)

De vez em quando o diabo me aparece e temos longas conversas.
Em nada se parece com o que dizem dele: rabo, chifres, patas de bode e cheiro de enxofre. Cavalheiro de voz mansa e racional, bem vestido, apreciador de desodorantes finos, me surpreende sempre pela lógica dos seus argumentos. Nada de futilidades. Só fala sobre o essencial, estilo que aprendeu com Deus, nos anos em que foi seu discípulo. Percebi que era ele quando notei que trazia na sua mão direita o martelo e, na esquerda, a bigorna. Pois esta é a sua missão: martelar as certezas, ferro contra ferro, para ver se sobrevivem ao teste.

Já se preparava para dar a primeira martelada quando o interrompi:

- Que é isto que você vai bater? Acho que vai se partir em mil pedaços…

A coisa que estava sobre a bigorna me parecia feita de louça, um bibelô delicado e frágil, e lamentei que o diabo fosse esmigalhá-la.

- Não tenho outra alternativa – ele me respondeu. – É parte de uma aposta que fiz com Deus. Este bibelô delicado é o casamento. E você pode estar certo: não resistirá ao ferro do meu martelo!

Fiquei indignado que ele estivesse maquinando coisa tão perversa e passei ao ataque.

- Não é à toa que os religiosos dizem que você é o anti-Deus. Deus junta. Você separa! A sua bigorna já destruiu muitos lares!

Ele não tinha pressa. Descansou o seu martelo e me falou com voz imperturbada:

- Já estou acostumado às calúnias. Mas não existe coisa alguma mais distante da verdade. Se há uma coisa que eu desejo é um casamento duradouro, até que a morte os separe. Se ponho o casamento na bigorna é justamente para provar que a receita do Criador não funciona. A minha é muito mais eficaz.

Como o meu silêncio indicasse minha disposição em ouvi-lo, ele continuou a falar:

- Todo mundo sabe que, no início, eu era a mão direita de Deus. Estávamos de acordo em tudo. Ele mandava, eu fazia. Foi por causa do casamento que nos separamos. Até então trabalhávamos juntos. Quando Deus disse que não era bom que o homem estivesse só, e melhor seria que ele tivesse uma mulher, eu concordei. Quando Deus disse que esta união teria de ser sem fim, até a morte, eu aplaudi. Mas aí apareceu o pomo da discórdia. Para colar o homem na mulher, Deus foi buscar uma bisnaguinha de amor. Protestei. Argumentei:

- Senhor! Amor é coisa muito fraca, de duração efêmera! Quem é colado com o amor logo se separa!

Citei o poeta: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure!” Amor é chama tênue, fogo de palha. Não pode ser imortal. No começo, aquele entusiasmo. Mas logo se apaga. Chama de vela, fraquinha, que se vai com qualquer ventinho… Amor é bibelô de louça. Todos os amantes sabem disso, mesmo os mais apaixonados. E não é por isso que sentem ciúmes? Ciúme é a consciência dolorosa de que o objeto amado não é posse: ele pode voar a qualquer momento. Por isto o amor é doloroso, está cheio de incertezas. Discreto tocar de dedos, suave encontro de olhares: coisa deliciosa, sem dúvida. E é por isso mesmo, por ser tão discreto, por ser tão suave, que o amor se recusa a segurar.
Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar. Como construir uma relação duradoura com cola tão fraquinha? Por isto os casais se separam, por causa do amor, pela ilusão de um outro amor. Qualquer tolo sabe que o pássaro só fica se estiver na gaiola. O amor é cola fraca para produzir um casamento duradouro porque no amor vive o maior inimigo da estabilidade: a liberdade. É preciso que o pássaro aprenda que é inútil bater asas. Um casamento duradouro é aquele em que o homem e a mulher perderam as ilusões do amor.

- Foi aí que nos separamos – ele continuou.

- Não porque discordássemos que casamento deveria ser eterno. É isto que eu quero. Nos separamos porque não estávamos de acordo sobre o que é que junta um homem e uma mulher, eternamente. Deus é um romântico. Eu sou um realista.

- Qual foi então a sua proposta? Que cola deveria ser usada?- perguntei, perplexo.

- O ódio. – respondeu ele. – Enganam-se aqueles que dizem que o ódio separa. A verdade é que o ódio junta as pessoas. Como disse um jagunço do Guimarães Rosa, quem odeia o outro, leva o outro para a cama. Diferente do fogo da vela, o fogo do ódio é como um vulcão. Não se apaga nunca. Por fora pode parecer adormecido. No fundo, as chamas crepitam. A diferença entre os dois? O amor, por causa da liberdade, abre a mão e deixa o outro ir. No amor existe a permanente possibilidade de separação. Mas o ódio segura. Não tenha dúvidas. Os casamentos mais sólidos são baseados no ódio. E sabe por que o ódio não deixa ir? Porque ele não suporta a fantasia do outro, voando livre, feliz. O ódio constrói gaiolas, e ali dentro ficam os dois, moendo-se mutuamente numa máquina de moer carne que gira sem parar, cada um se nutrindo da infelicidade que pode causar no outro. As pessoas ficam juntas para se torturarem. Não menospreze o poder do sadismo. Ah! A suprema felicidade de fazer o outro infeliz!

Com estas palavras ele tomou do seu martelo e voltou ao seu trabalho:

- Tenho de provar que eu, e não Deus, sou quem sabe a receita do casamento que só a morte pode separar.

Eu me persignei três vezes e compreendi que o inferno está mais perto do que eu pensava.



sábado, 4 de setembro de 2010

PRONTA PARA VOAR!!

Viajar sozinha pode ser maravilhoso ou se tornar uma tortura, dependendo de nossos objetivos ou estado de espírito...
Quando decidi ir sozinha nessa empreitada, sabia o que desejava, mas, como tudo na vida, tinha minhas dúvidas de como eu reagiria diante da “solidão” escolhida.
Sempre viajei acompanhada, dividi minhas alegrias, tristezas, vontades, com as pessoas que me acompanhavam, mesmo em Congressos, ou a trabalho, dificilmente estava só.
No Aeroporto, despedi da família, e com um coração “adolescente”, entrei no avião, que me levaria a um outro Continente, e ao encontro de mim mesma...
Cheguei na madrugada de Lisboa, para esperar minha conexão para Madri. Nessa cidade vive uma parte da minha família espanhola que, tempos atrás, deixou a Galicia, para lá viver.
Fiquei num hotel na Gran Via, centro nervoso e badalado da capital espanhola. Teria minha família por perto, em alguns momentos, pois iria visitá-los, alguns passeios seriam feitos com os primos, mas nada muito junto...
Revi os parentes idosos, alguns almoços, jantares, conversas sobre a família daqui e de lá, e eu sozinha na estrada...
O prazer de fazer meus horários, decidir aonde ir, parar, comer, com quem conversar, pedir informações, fazer novas amizades, não tem preço....
Claro que viajar com companhia é muito bom, dividimos tudo, inclusive a chatura de certos momentos... rsrsrs
O contato íntimo com nós mesmos é de uma importância vital. Desconfio até que certas pessoas, que não gostam de ficar a sós, não se gostam muito...
Ficar num outro país, sabendo que ninguém por ali é nosso parente, ou mesmo amigo, nos dá uma sensação de desamparo, mas também de total liberdade...
Em Madri, fiz amizades instantâneas, dessas que a gente faz em viagem, mas que marcam pra sempre, e que viram historinhas que vamos contar aos nossos netos, quando eles existirem.
Meu terceiro dia de Espanha foi vivido numa excursão de um só dia em ÁVILA e SEGOVIA; poucas pessoas sozinhas, famílias, casais, idosos com netos, e eu.
Logo me juntei com a guia, pois essas duas cidades eu ainda não conhecia. De repente, vi meus dois novos amigos. Os dois tímidos, americanos, gays, pela primeira vez na Espanha. Ai o passeio começou, o que era triste ficou alegre, e o cinza do dia virou colorido. Enquanto a guia repetia as explicações em 5 idiomas, nós 3 explorávamos, o terreno em torno, fazíamos comentários, tirávamos fotos e, o mais gostoso, ríamos muito...
Almoçamos juntos e ainda levamos um chinês perdido, e de um inglês sofrível, a tiracolo para nossa mesa. Explicar uma comida espanhola para um chinês, não é fácil, mas ele também se divertiu muito... rsrsrs
No final do dia estávamos já andando de braços dados, eu no meio e meus alegres companheiros de cada lado. Cada descoberta era motivo de novas fotos, sugestões de ângulos, e mais brincadeiras.
Perdemos-nos e nos encontramos num Castelo, compramos presentes, experimentamos vários doces, e não levamos nenhum. Dançamos numa praça ao som alto de uma loja de CDs, vimos coisas que a guia não mostrou, conversamos com gente da terra, enfim, vivemos a alegria de estarmos vivos.
Na volta, uma viagem de quase duas horas, tirei as botas, e dormi no meu acento...
Meus companheiros de viagem desceram antes de mim e, quando acordei, encontrei um bilhete.
“Nádia querida”,
Nosso passeio foi melhor pela sua presença. Nunca vamos esquecer da sua alegria!
Vc é para sempre!
Bjs JONH E BENNY
*nossos emails
Chovia na Gran Via, quando desci daquele ônibus de turismo, com o bilhete deles na mão. Dei um beijo na guia, e encarei a noite fria...
Segui caminhando, na chuva, sem proteção, com a alma lavada, e a certeza, de ter vivido um momento especial e único.

sábado, 14 de agosto de 2010

MEU AMOR CANINO



Ela chegou sem ser bem vinda, contava com a minha resistência, pois sabia que todo o trabalho iria “sobrar” para mim.
Como não consegui, ao vigésimo pedido do filhão, dizer, mais uma vez, não, ela surgiu na minha vida, de forma irresistível...
Era uma “bolinha” de pelos, uma Golden Retriever, linda dourada, mas que tentei nem olhar direito, pois não queria me apegar, para depois sofrer, no momento da partida... Quase sempre antes da nossa própria.
Fui uma criança cercada por animais domésticos. Tive duas cadelas durante quase 15 anos, uma gata por 8 anos, um papagaio que me acompanhou durante os meus primeiros 18 anos, de vida, vários pintinhos que depois eram levados para casa dos meus avós, pois era impossível tê-los dentro de um apartamento, por maior que ele fosse...
Enfim, era uma verdadeira Drª. Dolittle carioca... rsrsrs
Na época, não imaginava o quanto de trabalho eles geravam para os meus pais, amava meus bichinhos e eles acabavam aceitando por amor a mim...
Lembro a minha gata Mimi, que me foi dada pela professora, e quando cheguei a casa com o filhote, minha mãe me proibiu de ficar com ela, pois já existiam as duas cadelas, um papagaio e vários periquitos...
Voluntariosa, sai e fui sentar na portaria do prédio, com a gatinha no colo, ainda de uniforme escolar, esperando meu pai chegar, pois queria que ele tomasse a decisão final. Eu tinha 8 anos, mas já era osso duro de roer...
Meu pai confirmou a decisão da mãe, e a gatinha iria pra casa da minha avó paterna, no dia seguinte. Porém, os dias foram passando e ela conquistou a todos, com seu jeito de brincar, de correr atrás de tudo que rolava... Enfim, mais uma paixão de quatro patas...
Foram 8 anos, de convívio íntimo, já que ela dormia na minha cama. Aprendi com ela, que amor não precisa ser submisso, pois ela me adorava, mas sabia me esnobar... rsrsrs
Nossa Golden chegou sorridente, sim sorridente, porque acredito que cachorros podem sorrir.
Não dei muita bola na chegada, queria que o filho assumisse as responsabilidades quanto ao trabalho que dá um animal em casa. Eu pagaria a ração, veterinário, enfim, arcaria com a parte financeira. O trabalho “braçal” seria dele.
Lerdo engano meu. Logo nos primeiros dias, fui “adotada” por ela, que me buscava para brincar, correndo quando eu acordava, e me acompanhando até ao banheiro. Esse amor despertou ciúme, no dono dela, que, aos poucos, foi abandonando suas funções, as quais acabei assumindo por conta desse louco amor canino que tomou conta dos meus dias... rsrsrs
Passei a sentir todos os sintomas da paixão. Não podia ficar muito longe dela, queria saber noticias, telefonava para casa, e se conseguia ouvir um latidinho pelo fone, o dia estava salvo...
Passear com MEG, é esse o nome dela, é um prazer, só comparado a cinema de mãos dadas com o namorado, e mesmo assim, estando apaixonada... rsrs
Hoje, minha paixão já não é um “bebê”. Temos um relacionamento de cumplicidade, ternura, amor, fidelidade, paixão, que poucos seres humanos possuem.
Ela me compreende pelo olhar. Quando estou triste, vem sentar ao meu lado, sem nada pedir, simplesmente fica lá, num silêncio amoroso e respeitoso.
Existem momentos que converso com ela, falo das minhas dúvidas, dos meus medos, das minhas alegrias, aí ela sobe no meu colo, numa forma canina de me abraçar e me consolar, como se dissesse... EU TE AMO, MOÇA!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A FESTA ACABOU...!

De repente a festa acabou ele partiu, por decisão própria...
Ela sentiu um certo alívio, até uma pontinha de felicidade, pela liberdade recém conquistada. Iria voltar com os amigos, sair para dançar, chegar em casa mais tarde, sem dar satisfações.
Sempre tinha sido muito independente e aquele amor, de certa maneira, sufocava.
Sorriu para o espelho, ao lembrar que a vida de solteira iria recomeçar. Novas emoções, paqueras, convites, telefonemas, e-mails carinhosos, enfim a vida...
Mesmo sem querer fez um “inventário” desse “amor”, que morreu sem brigas, nem cobranças, nem lágrimas...
Pensou nesse sentimento, que meses antes os tinha unido. A alegria da espera do chegar do outro, das palavras doces, de como era bom ouvir, um “eu te amo”, no meio de uma briga feroz. Quando viviam o desejo, que bastava um simples “alô”, para que o outro sentisse tesão. No fundo uma ilusão... era???
Era uma mulher bem defendida, nunca foi de grandes apegos, mas claro que iria sentir falta, afinal já se tornara um hábito. Talvez, um pouco mais do que isso...
Não o queria como amigo, pois assim o desejo nunca morreria. Precisava tirá-lo da sua história, e sair da dele, também. Afinal não mais se gostavam.
Parou e pensou que, se há tempos atrás, alguém mostrasse através de um vídeo, do you tube o que eles viveriam, mesmo assim, com todas as perdas e danos, gostaria de ter vivido esse sentimento.
Lembrou dos erros cometidos, por ambos. Da falta de atitudes dele, das mentiras, omissões. Perguntou-se por que não conseguia abrir mão do seu “mundinho” egoísta.
Ambos eram vaidosos, sedutores, belos, cada um a seu jeito, ciumentos, possessivos, intensos. Nada morno. Uma ternura misturada com adrenalina. Se é possível tal química... rsrsrs
Sentimentos plenos e difíceis de administrar, quando colocados lado a lado.
Sabia que amores morrem, sem avisar, porém esse deu sinais. Sinais de cansaço, de falta de motivação, quando o outro sai de sintonia.
Não mais pensaria no abraço gostoso, no beijo molhado, no sexo feito com sofreguidão. Iria esquecer, pensando nos defeitos, ótima tática, que sempre funcionou com ela.
Ele, na certa, mais objetivo, já tinha novo objeto do desejo, e já começará a investir numa nova emoção. Sabia como eram os homens. A nova “emoção”, até já existia, é era tão morena, quanto ela...
Um dia, talvez se dessem conta, do tempo perdido, pela falta de coragem de viver esse gostar de forma definitiva. Que ficar em “cima do muro”, se sofre do mesmo jeito.
Com um olhar cínico imaginou: Não tinha que ser.
Deixou de lado o pensamento romântico que todas às vezes, que um sentimento belo, morre pela nossa incompetência, ficamos mais pobres e vazios. Queria acreditar que coisas melhores virão, e que a festa nunca vai acabar. Apenas mais um amor que não vingou. Ele vai se juntar aos álbuns de fotografias, de outros amores mortos, da história de ambos.
Um dia, quem sabe, se darão conta, que o tempo passou que eles nem mais se lembram um do outro, que a vida continuou sem os telefonemas dele, sem os e-mails de ambos, sem as fantasias vividas...
Um presente da vida, jogado no LIXO!!!

domingo, 25 de julho de 2010

AS MÃES DO VINNY

Sou mãe galega quando, mais que severa, exijo o máximo;
Sou mãe portuguesa quando acho que deverias comer mais e melhor;
Sou mãe italiana quando, depois de broncas, te dou milhões de beijos;
Sou mãe judia quando te acho maravilhoso, mesmo não sendo;
Sou mãe brasileira quando afroxo nos limites que deveria dar;
Sou mãe profissional quando, querendo ficar, tenho que ir;
Sou mãe emocionada quando, num gesto inesperado, recebo um beijo teu;
Sou mãe torcedora boba quando, na arquibancada, me ofereces teu gol;
Sou mãe admirada quando te vejo tão grande, sendo ainda, tão pequeno;
Sou mãe preocupada quando, diante do nosso mundo, temo por ti;
Sou mãe feliz quando flagro suas pequenas descobertas e realizações;
Sou mãe cobradora, brincalhona, doadora, batalhadora, que, quando te vê, se vê criança novamente;
Sou mãe bicho, que lambe a cria, quando assisto, ainda encantada, seu sono tranquilo;
Sou mãe possessiva, mesmo sabendo, que apesar de seres meu, não me pertences;
Sou mãe realista quando te vejo tão parecido comigo, mesmo sendo tão diferente;
Sou mãe repleta de defeitos com vontade enorme de acertar sempre, mesmo sabendo ser impossível;
Sou mãe lúcida e forte, que enlouquece diante de uma doença tua;
Sou mãe tão diferente das outras, mas exatamente igual a todas, insegura, persistente, observadora, chata, mas com uma capacidade infinita de te amar.

* Agosto de 1999


* Vinícius tem hoje 18 anos, é universitário de engenharia , amigo, digno, correto, enfim um presente da vida para todos nós...


terça-feira, 20 de julho de 2010

TUDO JUNTO E MISTURADO

Sempre achei que somos um mosaico de contradições, e que isso faz um bem danado pra o enriquecimento das nossas vidas. Porém, conviver com essa montanha russa de estilos não é fácil...
Adoro conversar com desconhecidos. Nesses “encontros” especiais, já vivi histórias emocionantes. Momentos que me marcaram, e que jamais serão esquecidos.
Em outubro do ano passado, fiz a minha primeira viagem de turismo sozinha. Era outono, numa Europa dourada e friorenta.
Na Espanha, estive, em alguns momentos, com minha família espanhola, e, como sempre, foi muito bom. Em Portugal, encontrei uma Lisboa tranqüila, mesmo em um dia de um grande temporal. Conheci novos amigos, fiz passeios, revi lugares. Em todos os momentos, essa minha vontade de saber mais, descobrir, aprender, essa curiosidade latente, misturada com uma certa timidez, mas que não me impede de ousar e perguntar, me proporciona uma inquietação que me leva além...
Em uma noite solitária, porém repleta de eu mesma, entrei num restaurante tipicamente Português. Era sexta-feira, todas mesas ao redor estavam ocupadas por grupos grandes, famílias, casais...
Eu, na minha “solidão” feliz, mirava o cardápio tentando descobrir o quê me faria mais contente aos sentidos. De repente, ela surgiu. Devia ter uns 30 anos, era uma típica mulher portuguesa, pele alva, poucos lábios, cabelos presos. Perguntou o que eu beberia. Pedi uma sugestão de vinho. Ela sorriu e daí travamos nossa conversa.
Durante todo o jantar, estivemos conversando. Os poucos momentos de ausência dela foram para atender a alguém, mas logo retornava. Falamos de tudo, no início sobre o tempo, depois do Brasil, das minhas origens ibéricas, da imigração, da vida dela, de Angola, onde ela havia nascido, da falta de tempo que ela tinha para namorar, pois trabalhava muito, e, assim, o tempo passou rápido infelizmente...
Chegou a hora da sobremesa, eu já satisfeita, respondi que não.Queria resistir aos maravilhosos doces portugueses, que eu já comprara a quilo , durante o dia, porém ela insistiu. Acabei por aceitar, e lá se foram mais umas 2.000 calorias para esse corpinho, já não tão magro nessa época...rsrsrsr
Hora da conta: Ela, ao meu lado, com a nota na mão. Confiro e surpresa!!! Cadê o valor do doce?
Olho para a minha mais nova amiga de infância, e afirmo; você esqueceu de colocar a minha sobremesa na notinha....!
Senti um olhar tímido, de alguém que não tinha ninguém para conversar, e que naquele momento estava inteira com uma desconhecida, também tão só como ela.
Com a voz baixa, disse que o doce era uma “prenda” dela para mim, pois eu “adoçara” a noite dela com as minhas conversas e alegria. Diante da minha perplexidade, afinal ela era uma profissional, e a gorjeta que eu daria, não cobriria o valor do doce, caro por sinal, disse que não poderia aceitar, pois isso iria causar um prejuízo e ela.
Ela reafirmou que era um presente dela para mim.
Diante desse argumento, acabei por aceitar tamanha gentileza, porém fazendo uma pergunta: como posso retribuir ao seu carinho???
A resposta veio rápida e certeira. Venha mais vezes aqui e converse comigo. Eu só quero isso...
Olhei aquela moça ao pé da minha mesa, tão diferente de mim, mas tão humana como eu. Com uma história de vida totalmente contrária a minha, que passou por dificuldades que eu nunca passei, com um mundo de solidão nas costas, algo que eu nunca senti, e profundamente só, no sentido doloroso da palavra. Levantei, e profundamente emocionada, dei-lhe um abraço forte. Daqueles que ficam na nossa lembrança e memória, pelo aconchego, carinho, emoção, tato, proteção.
Quando nos separamos desse abraço, pude ver que ambas estávamos emocionadas, mesmo tentado disfarçar tais sentimentos, coisa boba que os humanos fazem. Foi um momento único que ficará para sempre.
Depois sai, sem olhar para trás, pois já me doía saber que eu não iria mais voltar...






terça-feira, 13 de julho de 2010

O QUE RESTA DO TEMPO




Amanheceu, e ela continuava prostada na cama...
No corpo, as marcas suaves do amor da madrugada. O cheiro dele no corpo sem o banho do depois. Olhou com carinho aquele homem maduro, cabelos já grisalhos, marcas delicadas em um rosto, com um sorriso ainda de menino...
Ele dormia, sem roupa, por baixo do edredon. Ainda com restos de desejo, levantou levemente e ficou a observar o corpo amado.
Anos tinham se passado desde a data quando se conheceram. A paixão tão depressa, os receios tolos pela diferença de idade, as brigas por ciúmes, a falta de confiança por causa do jeito sedutor dela, até as fotos de biquíni ele odiava. Pelo seu lado, ela ficava insegura quanto ao passado dele. Alguns amores que deixaram marcas, e o ciúmes, idiota, do passado, presente e futuro dele.
Lembrou-se de um encontro depois de uma briga, das pazes feitas pelo telefone e do reencontro. De repente ele estava ali, na frente dela, com um sorriso aberto e uma vontade intensa de sentir o cheiro tão conhecido, que tanto prazer lhe dava. Um abraço, um longo beijo, e depois direto no pescoço pra sentir a alma desse amor.
O abraço deles tinha gosto de proteção. Porém, não o de uma proteção unicamente dele. Ao invés disso, era algo mútuo e compartilhado, o qual ambos dividiam.
O tempo deu confiança. Ela não mais temia os ex-amores dele. Ele não mais “morria”, quando um outro homem olhava para ela. Contudo, algo não mudará: o desejo.
Cada vez sentiam mais e mais. Mesmo nos momentos de grandes brigas, não conseguiam deixar de se tocar, e enfim, de se amar... Nesses momentos, ela dizia que não fazia amor com ele, mas, sim, sexo, e dos bons. Apesar da raiva, até das magoas, era incontrolável não se buscarem.
Ela bem sabia como ele se tornava menino. Em determinados momentos de intimidade, ele se entregava por completo aos prazeres loucos, e, assim, a relação deles era cada vez mais íntima. Uma vida onde não existia homem/mulher, mas, sim, dois seres que se buscam e se desejam feito bichos selvagens, ternos e amorosos, no relaxamento do depois do amor...
Das loucuras que ainda faziam, a vontade de conversar sem parar, os passeios de mãos dadas, a cabeça dele pousada no colo dela, daquele olhar que a despia toda, durante um jantar na casa de amigos, num convite imoral de ir para casa mais cedo, o acordar durante a madrugada querendo o corpo do outro.
A necessidade de se devorarem em chamas, encostados na paredes e vibrarem com os cheiros dos seus sexos, coisa de instinto primitivo e tão adorado por eles.
As noites inteiras e todas as fantasias tão íntimas que os dois viviam. Como seus corpos fossem, ainda, um porto seguro para os dois. . Seria isso normal, depois de todo esse tempo???
Pousou o edredon nos ombros dele, levantou da cama, foi ao espelho, se olhou atentamente, percebendo que esse amor lhe fazia bem.Que aqueles medos do passado foram provas a serem ultrapassadas, para poderem viver toda essa história.
Amor que superou a gênio furioso dele, o jeito dissimilado dela que tanto incomodava a ele, e que naquele momento eles podiam usufruir.
Talvez estivesse escrito na palma das mãos deles, ou quem sabe nas estrelas, só que eles tiveram a coragem de viver e enfrentar .
Quando existe um grande amor, ele sempre assusta, mas cabe aos loucos, corajosos e apaixonados viverem isso...