quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ENTÃO É NATAL...

Tive natais maravilhosos. O natais de infância foram sensacionais, pois fruto da primeira geração da família nascida no Brasil, e já com uma situação financeira boa, eles foram recheados de comida farta, decoração bonita, muitos presentes, e o principal, uma família unida.
O aniversariante era sempre lembrado, pois meu avô português era muito religioso, e missa era obrigatória. Apesar de meu pai, ter se tornado ateu...
Passávamos sempre na casa dos avós paternos, onde jantávamos na mesa grande, cercada dos avós, pais, irmão, tios e primos. Lá iam também alguns vizinhos, todos portugueses, num entra e sai sem parar. Muito vinho, e o impressionante, ninguém ficava bêbado...rsrs
Uma vez comi 25 bolinhos de bacalhau, claro que eram pequenos, mas foram contados pela minha avó, que fritava e eu comia... Depois fiquei anos sem poder olhar para os tais bolinhos...rsrs
Quando tinha adesão de outros amigos portugueses, meu avô colocava a mesa ampliada, no quintal da enorme casa, e lá sentavam muitas pessoas; um jantar luso, com lombo de bacalhau, muito azeite, os tais bolinhos, frango para os que não gostavam de bacalhau, leitão, vinho e sobremesas maravilhosas. Uma verdadeira orgia gastronômica, que minha avó fazia sozinha.
O pinheiro do jardim era enfeitado com flocos de algodão, e eu nem achava aquilo cafona, e corria quando o vento soprava os floquinhos, pra colocá-los no lugar.
Tinha um presépio no jardim, numa casinha de madeira, feita por meu avô. De noite, ele ficava iluminado. Lindo!!!
Ainda posso ouvir o burburinho das vozes, sotaques fortes, eu correndo com os primos - os mais velhos escutando música, e minha avó reclamando do som alto.
Brigas políticas também ocorriam - meu pai, homem de esquerda, contra meu tio, irmão dele, um extremista de direita. Minha avó, sempre ela, aparando as arestas, e mandando pararem com isso, e lembrava do aniversariante... JESUS!
Depois, íamos para casa dos avós maternos espanhóis Lá tudo era mais calmo, pois não havia crianças. Eu e meu irmão éramos os únicos netos, pois meus dois tios não tiveram filhos. Mas uma coisa acontecia quando chegávamos para a ceia de meia noite.Éramos a alegria da “festa”, paparicos por todos os lados, e a “saudável” mentira de que papai Noel já havia passado e deixado os brinquedos lá.
Abria os presentes com gula, sem ainda imaginar que quantas crianças iguais a mim, nada tinham pra comer, nem brincar. Eu, na minha doce ingenuidade, achava que o mundo era bom, e que todos tinham uma família como a minha.
Na madrugada, voltávamos pra casa. Colocava meu sapato na janela, e dormia excitada, imaginando que outras novidades o bom velhinho me traria.
Na manhã seguinte, era de novo festa. Almoço na casa dos avós maternos, e jantar na paterna. Muita comida, afeto, alegria, sonhos, abraços, beijos, e presentes.
O tempo passou. Os netos cresceram, casaram, um bisneto nasceu, meus 3 avós morreram.E o natais foram ficando diferentes.
Também casei, tive filho, e minha avózinha materna, insistindo em fazer o natal em sua casa. Aí resolvi assumir o papel de “matriarca” e fazer nossos natais.
Fiz tudo que tinha direito. Queria oferecer ao meu filhote, os seus melhores natais.Ele filho, neto, e bisneto único, sem fazer dele um menino chato, nem mimado.
Durante anos decorei a casa, como ninguém, coisa de louca mesmo, pois até o quarto dele tinha decoração natalina, com direito a árvore, e tudo mais.
A alegria do meu menino era tudo - iluminava nossas vidas. Ele costumava “roubar” o menino Jesus do presépio da sala e colocá-lo no quarto dele. Lembranças doces.
Contei a ele a história do aniversariante, ele ficou emocionado, e fez muitas perguntas... Como se eu pudesse responder a todas as perguntadas do mundo....
Um dia, ele com uns 5 anos, me chamou pra uma conversa séria. Sentados na cama, ele, com os olhos cheios de lágrimas, me perguntou: Papai Noel existe??? E completou: um
amigo da escola, disse que não existe.Diante daquele olhar, resolvi perguntar uma coisa: Você gostaria da verdade, né?
Ele, já com as lágrimas correndo no rosto, balançou a cabeça, que sim...
Olhei aquele rosto lindo em lágrimas, e mentindo, disse que ele existia, pois achei que era a “verdade” que ele queria ouvir. Ele sorriu, limpou o rosto e saiu correndo. Nunca mais me perguntou nada sobre papai Noel. A transição para a descoberta foi tranqüila, ele não mais chorou...
Tempo passou, como sempre... A avó se foi, minha mãe também. O filhote cresceu, mas nos mantivemos firme, união é importante, e lembrar “dele” faz bem a alma.
0s natais passaram a ser mais solidários, eu, dando os brinquedos novos e roupas dele, para orfanatos, e mostrando o outro lado da vida.
Esse ano vai ser a primeira vez que meu filhote vai passar o natal longe. O pássaro está deixando o ninho, preferiu ir viajar com os amigos, pra um outro país.
Assim como os pássaros, vou olhar pra meu ninho vazio e agradecer por ter podido ter a companhia dele durante todos esses anos, mas que agora é hora.
Hora de voar alto, lindo, saudável, sem vícios, educado e com muito amor por nós. Vai meu filhote, descobrir novos caminhos, e lembre-se, pra sempre, dos nossos natais.
Que um dia vc possa reproduzir aqueles natais para seus filhos e se lembre sempre do aniversariante, das coisas que ele pregou, e dessa família que muito lhe ama.
FELIZ NATAL, VINÍCIUS!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

PARA SEMPRE ELVIS

Fui caminhar no bairro da Urca. A vista da Baia da Guanabara me acalma, e faz muito bem a minha retina. Na metade da caminhada, sou pega de surpresa por uma dessas chuvas forte de verão.
Não corro, afinal iria me molhar de qualquer jeito, pois tinha deixado o carro há mais de 2 km , de onde estava.
A chuva bateu forte, roupas coladas no corpo, totalmente molhadas, lavaram minha alma. Sem pressa fui até ao final de meu destino, retornei, e mais uma vez confirmei que as pessoas que já estão molhadas, na praia, quando chove, correm pra se abrigar. Por que será? rsrsr
Na volta, presa no engarrafamento de um fim de tarde, escuto o rádio, e observo a chuva, que teima em continuar caindo.
De repente, ele começou a cantar... Elvis, tão raro no rádio, chegou pra me encantar, e me trazer lembranças da minha vida em família.
Meus pais adoravam Elvis Presley, ele embalou a adolescência deles, e eu passei minha infância, escutando Elvis. Independente dele “estar” fora de moda...
Tinha também, alguns filmes que passavam na TV, onde se via um homem belo, de um rosto apaixonante, cantando maravilhosamente bem.
Eu que tinha dele uma imagem de juventude e beleza, fiquei surpresa ao vê-lo como uma figura bizarra, e logo depois a morte.
Na verdade apaguei aquele famoso vídeo, onde ele aparece inchado, com uma roupa cafona, suarento, cansado, totalmente decadente. Para mim, ele era uma figura “velha”, estranha, enfim, não batia com “aquele” outro.
Na minha pouca experiência de vida, não tinha noção do que se passava no mundo de Elvis, nem tinha, ainda, capacidade e maturidade para entender.
Aos poucos ele foi saindo de cena, na minha casa, e da minha vida. Nova trilha sonora tocava na família, e os meus gostos foram ampliados, e eu já nem escutava os que os pais ouviam.
Reencontrei Elvis, muitos anos depois, através de outras pessoas que gostavam dele, mas ele continuou escondidinho dentro de mim.
Com a internet, passei a “baixar” músicas, pesquisar no you tube, e ele renasceu na minha história.
Pude perceber algumas coisas nele. Li “biografias” não autorizadas, e fui tendo um carinho especial por esse homem morto, que foi “mito”, em vida, mas que sofreu como qualquer mortal.
Passei a me questionar, os motivos pelos quais as pessoas de tanto sucesso, acabam de certa maneira, da forma como ele terminou. Depressivos, envolvidos com drogas, com vidas afetivas complicadas, explorados, mal amados, frustrados, usados e alguns mortos precocemente.
Aconteceu com Jimi Hendrix, Janis Joplin, Michael Jackson, Carmem Miranda, entre tantos ídolos, com problemas, só pra citar alguns...
Carmem Miranda, que “conheci”, através da ótima biografia de Ruy Castro, era “dona” de uma personalidade adorável. Alegre, independente, líder, extrovertida, amiga dos amigos. Que mesmo assim, foi “contaminada” pela síndrome do sucesso, e acabou literalmente, “sendo morta” por excessos de remédios para dormir, aos 46 anos de idade.
Voltando a ele. Elvis foi um ídolo, não só para geração dele, mas um divisor de águas, entre um mundo ainda ligado a grandes orquestras, e alguns cantores clássicos.
Elvis “jogou” no mundo o “Rock and Roll”. Com ele veio o direito do homem dançar sensualmente, sem ser julgado homossexual. Elvis era sexy!
Toda uma geração se espelhou nas atitudes dele, que era um “bom rapaz”, que adorava a mãe, e muito dependente desse sentimento. Ao contrário de outro ícone da época, James Dean, Elvis tinha família, era sentimental, nada revoltado, queria apenas ser sucesso. Afinal, conseguiu...
O restante da história, todos nós sabemos. O belo Elvis, que poderia ter todas as mulheres do mundo, como simples ser humano, se apaixonou pela linda Priscila, com ela casou, mas casamento não é conto de fadas, e a musa foi embora, talvez cansada, das bebedeiras, da montanha russa dos sentimentos desconectados, e com ela levou a única filha do casal.
Daquele momento em diante, o ídolo caiu de vez. Sem amparo sentimental, a mãe já tinha morrido há tempo, e sem aquele grande amor, Elvis se mostrou frágil, manipulado, usando cada vez mais remédios para depressão, e para dormir. Com tendência a engordar, perdeu a figura sensual, envelheceu precocemente, afundou...
Fiquei imaginando um diálogo impossível, entre eu e ele. Seria uma “viagem” no tempo.
Eu uma pessoa de outra geração, que nasceu no Brasil, de mundos diferentes, sentaríamos nos jardins dos meus avós, daquela casa que já nem existe mais, cercados pelos jasmins, damas da noite, e bouganvilles, plantados pela minha avó. Naquele banco de madeira feito pelas mãos calejadas do meu avozinho português, travaríamos uma conversa de horas. Aquelas que só temos com grandes amigos, e mesmo assim, com muitas afinidades...
Falaríamos de amor, dos nossos medos, em que momento ele se perdeu, e da falta que faz a gente não ter contado com nosso mundo interior. Falaríamos de como a autoestima é importante, e de como o amor próprio é fundamental pra sobrevivência de qualquer ser humano.
Depois ele iria se levantar, beijaria as minhas mãos, e sumiria no escuro da noite... com um breve: Espero você lá...
Talvez, quando esse dia chegar , eu o encontre já refeito das mazelas humanas, lindo, sorridente e cantando, só para mim, “Love me Tender”...
E, devolvendo aquele sorriso, eu afirmaria: Agora é para sempre!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

SIMPLES DESEJO!

De repente pensei nas coisas simples que me fazem feliz.
Como gosto de coisas, que não dependem de ninguém, ou melhor, que estão lá, só para serem usufruídas, é fácil e simples relacionar...
Bem, algumas precisam de uma ajudinha alheia, mas se não acontecer, vivo outras coisas...
Então, vamos lá...!
Ver a Baia de Guanabara, do bairro da Urca, é algo que todos deveriam fazer antes de partir desse mundo.
Um passeio na Lagoa, de bicicleta, sentindo seus contornos, é de tirar o fôlego.
Sentar na Pedra do Arpoador e olhar o mar, depois dar um mergulho, e com a alma lavada, ficar pronta para os nãos da vida, faz um bem enorme.
Tomar suco de morango com laranja, também é bom; e sorvete de pistache? Hummm!! Delícia!!
Ficar horas no telefone, com um amigo (a) querido (a), com quem a gente tem mil afinidades, é tri, como dizem os gaúchos... rsrsr
Conversar com desconhecidos, e descobrir que são inteligentes, e bom de papo, cai muito bem...
Tomar água de coco, no mirante do Leblon, com uma das vistas mais bonitas do mundo, também é gostoso...se for com uma companhia bacana, melhor ainda.
Aquela pipoca com queijo da esquina, eu não resisto, e quer saber; o pão na chapa, cheio de manteiga, da padaria do bairro, também não.
Os doces portugueses? Como sem culpa, depois vejo o prejuízo, mas na hora, vou fundo...!
Adorooo escutar música alta, ou então sou radical, com fones nos ouvidos, e os vizinhos agradecem.
Dançar na sala, também é legal, se for acompanhada, é ótimoooo!
Caminhar de mãos dadas também é muito bom, e aquele beijo sem razão? Aliás, existe beijo sem razão? rsrsrs
Dar um cheiro no cangote, e sentir o perfume dele, é demaissss!
Ler um bom livro de uma só vez, é um mergulho fundo na fantasia, e vale mais que uma sessão de terapia...
Telefonar para os pais, e dizer que gosta deles, pode assustar, mas é muito bom, e faz bem...
Fazer um chamego, nos cachorros da rua, pode acabar em mordida, mas ninguém paga o olhar carente e agradecido de um cão abandonado, acarinhado...
Trabalhar em algo que nos dê um prazer imenso, também é super, até passa a ser lazer.
Sair com os amigos, falar besteiras, rir muito, é melhor que fazer plástica rejuvenecedora...rsrsr
Ver o por do sol, em Ipanema, é de agradecer por ter nascido nessa cidade.
Andar numa trilha, no meio da mata, pela manhã, cercada de passarinhos, também me faz muitooo feliz.
Ter recebido aquele mãeeeee, do filho de 3 anos, quando ia para o trabalho, e o ver correndo para os meus braços, é inesquecível.
Ser feliz, ao contrário de ter razão, faz bem demais.
Ouvir: “Cala a boca e me beija”, é muito melhor que ouvir: Você está certa...
Ficar de mãos dadas, com avó doentinha, pode dar um aperto no coração, mas fica pra sempre, na lembrança, esse momento de ternura e amor.
Aquele abraço apertado, dado pela grande amiga, não dá para esquecer, e como consola...
Sentar no cinema, com uma barra de chocolate branco, mas preto também serve, e ver um filme legal, no meio da tarde, também é um super desejo, e fica um gostinho bom na alma.
Receber um torpedo, e-mail, telefonema, bilhetinho, etc., dizendo que gostam da gente...Poxa! É demais!!
Na falta disso, olhar para o espelho e pensar; garota você é maravilhosaaa! Também ajuda...rsrsr
Tomar um banho demorado, passar um hidratante de morango com champagne, no corpo, soltar os cabelos ao vento, para que ele seque, assim, livre. Um pouco de baton, cor de boca, colocar uma sandália confortável, um jeans surrado, aquela blusa preferida, e duas gotas de perfume na nuca. É maravilhoso!!!
Ter um dia inteiro pra curtir, e saber que todos os dias deveriam ser assim, pelo menos na imaginação, também não tem preço, e vale a pena viver...!
* Os locais citados, ficam localizados no Rio de Janeiro/Brasil