sábado, 29 de janeiro de 2011

AROMAS...

Vivemos numa cultura altamente visual. A aparência das coisas é de total importância. Vendemos um produto pela sua aparência. Comemos primeiro, com os olhos, dizem alguns. Ficamos “apaixonados” por pessoas ditas bonitas. Evitamos seres que não se encaixam nos padrões de beleza atual.
Muitas das vezes rotulamos pessoas, locais, situações, apenas pela forma como a “enxergamos”.
Eu nasci meio na contramão dessa cultura visual. Claro que, também, fico fascinada diante de algo que para mim, seja belo. Porém meu melhor sentido é o olfato.
Os aromas comandam meus instintos. Sou primitiva, animal, em se tratando de cheiros.
São eles fontes das minhas lembranças, sejam da infância, adolescência, idade adulta...
Comecei a perceber isso, quando ao relembrar certos fatos, sempre me referia aos cheiros, como ponto de partida dessas recordações.
Uma das minhas lembranças mais primária era o cheiro de rosas do perfume da minha mãe. Seu colo exalava o aroma dessa flor. Engraçado nunca perguntei que perfume ela usava quando eu era criança, só sei que ao chegar perto de rosas, era dela que eu sempre me lembrava. Minha doce flor, que partiu tão cedo...
Um cheiro recorrente em minha vida é também, uma lembrança da menina que fui. Meu pai foi um fumante tenaz, ainda lembro a fumaça do cigarro subindo do cinzeiro, contra a luz do abajur. Esse sentir me lembra homem, talvez segurança, mas não gosto mais. Sou totalmente contra ao cigarro, seu cheiro, e suas conseqüências.
O cheiro de terra molhada lembra os jardins da casa dos meus avós. Tanto quando chovia, quando a minha avó, no final das tardes quentes molhava as plantas, sem nenhuma preocupação com o desperdício da água... rsrsr
E o cheiro de tamarindo? Esse me lembra a primeira escola, onde eu colhia os tamarindos do chão, e me deliciava com aquele amargor, escondida atrás do parquinho, pra não dividir com ninguém.
O perfume do bife da minha avó, não tinha concorrente, eu podia sentir subindo as escadas da varanda da frente. Bolos de chocolate, refogado de feijão, café passado de fresco, doce de coco de panela, banana frita com canela e açúcar, sardinhas assadas na brasa, também são inesquecíveis ao meu olfato.
Os brinquedos novos tinham um cheirinho todo especial de plástico, ou melhor, de brinquedo novo mesmo... rsrs
Cresci, e na minha memória sentimental as fragrâncias do primeiro baton, dos perfumes importados da moda, da lavanda que minha mãe colocava nas gavetas, e que dava um cheirinho gostoso nas roupas. Todas vivas dentro de mim...
Meus namoros também foram pontuados pelos cheiros. Aquele perfume do menino mais charmoso era de limão, nem sei o motivo, mas era... rs
Depois o namorado mais velho, com cheiro de homem que sabia das coisas, mas que virava menino diante da minha adolescência.
Não sei quantas vezes me peguei cheirando as camisas do amado, e como é bom sentir o perfume, natural do corpo do outro, no nosso corpo...
O perfume que exala de uma nuca, fica pra sempre no limbo da memória, e não morre jamais dentro de nós. Como um barco ancorado nos nossos afetos.
Alguns cheiros me excitam, outros me afastam, mas alguns me atraem, e por aí vai.
Não gosto de perfumes doces, eles me enjoam, e me lembram mulheres delicadinhas, boazinhas, perfeitinhas, previsíveis, chatinhas demais... rs
Talvez por isso, só uso perfumes masculinos. Bem, você pode estar se perguntando; você tem cheiro de homem??
Não, claro que não. Cada perfume depende sempre da pele de quem usa. Nunca, apesar de sempre usar perfumes masculinos, tive cheiro de “homem”, aliás, muito pelo contrário. Acho até que os hormônios femininos, misturados com a química masculina, funcionam muito bem.
Adoro cheiro de cabelos, pode ser aquele recém saído do banho, ou mesmo seco, com algum condicionador inspirador.
Durante algum tempo fui fascinada pelo cheiro de chiclete na boca da pessoa amada, ou então, o suave buquê do vinho passado através de um beijo. Bom demais!
O cheiro de travesseiros também me faz muito bem, neles se guardam as lembranças de noites de sono, ou de amor...
O perfume do roupão de banho, da toalha molhada com o aroma do sabonete, o desodorante que não “briga” com o cheiro do corpo. O perfume da maçã, recém devorada, na boca de alguém.
Amo também, o cheiro de carro novo. Os acentos vêm com um aroma especial, que contribuem com lembranças alegres, desde o primeiro carro zero.
Hum... E o cheiro do mar? Ele vem através do vento, e nos pega de sopetão. Faz com que as lembranças corram soltas pelos caminhos dos mistérios, levando o pensamento pra além mar...
Os quintais da minha infância tinham cheiro de fruta madura, eu “menina de apartamento”, ficava maravilhada quando podia freqüentar um.
O cheiro do amor, eles não ficam apenas nos lençóis, travesseiros, ficam no corpo, na alma, na lembrança de quanto se foi feliz... Sentir na pele o cheiro do amor é uma delícia!
Os animais são comandados pelos cheiros. Eu como animal racional também, pois já me apaixonei por odores, ao ponto de sentir falta deles.
Aromas são lembranças que ficam pra sempre em nossos labirintos internos. Deles são as nossas recordações mais íntimas, primitivas, profundas.
Se eu pudesse definir um aroma pra ser lembrada, queria que fosse uma mistura de canela, limão, sândalo, e lavanda. Não sei o que essa combinação daria, mas com certeza, eu iria gostar. Acho que valeria a pena tentar...
Fragrâncias, amor e felicidade, são coisas que, às vezes, se encontram...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

RESPOSTA AO TEMPO

Um novo ciclo se encerra, ano que acaba, vida nova que reinicia...
Será que isso é verdade?
Calendário existe apenas pra enumerar o tempo, quantos anos temos, em que ano compramos tal imóvel, o dia do vencimento da conta de luz.
Contamos nosso tempo, na verdade, pelas nossas emoções, sejam elas positivas ou negativas.
Podemos até citar datas, mas o que conta mesmo é aquilo que vivemos. O recheio, não os dados. Não somos um gráfico de estatística, somos humanos. Vivemos de emoção.
É normal as pessoas, se referirem na “minha época”, como se o agora não existisse e, o presente, não tivesse nenhuma importância.
Normalmente nos referimos à “nossa época”, por causa da emoção vivida durante esses anos dos quais chamamos de nossa...
O tempo é sempre o hoje, o passado foi vivido, mas não é nossa época, é passado, apenas. Pode ter sido de grande importância, mas foi, aconteceu. Talvez, tenha ficado pra sempre feito cicatrizes, mas passou... Será?
Mudamos de roupa, de vida, de amores, de trabalho, país, não importa, não é o tempo que determina, são as emoções que vivemos nesse período, que vão marcar nosso calendário interior.
O amor durou só alguns meses, foi maravilhoso, mas acabou. O casamento foi sofrível, e sobreviveu à vida inteira. O que foi mais significativo? Que tempo marcou mais? Tempo?
O que chamamos de tempo, o ciclo da vida, nosso próprio envelhecimento, fazem parte dessa passagem. O tempo é diferente na natureza, pois essa, dependendo do espaço geográfico, tem suas estações bem marcadas, num ciclo de renovação, que engloba o mundo animal e vegetal.
Cabe a nós, simples mortais, fazer desse espaço, entre nosso nascimento e a morte, algo digno de ser contado como tempo de emoções.
Conheci uma pessoa que todas as vezes que ela queria contar uma história feliz, falava sobre uma viagem onde ela foi muito amada...
Não que ela não tivesse vivido outras coisas boas, mas, com certeza, essa experiência foi uma das melhores da vida dela.
Nossas emoções nos marcam como tatuagens na alma, e por elas vale a pena ter vivido.
Enfim, vamos passar. Um dia acabaremos, e ficará aquela lembrança, talvez, numa foto, de um certo olhar, de cabelos ao vento, de uma gargalhada feliz.
Nossas emoções vão conosco, as histórias também e, quem sabe, um dia vamos nos encontrar por aí...