terça-feira, 20 de julho de 2010

TUDO JUNTO E MISTURADO

Sempre achei que somos um mosaico de contradições, e que isso faz um bem danado pra o enriquecimento das nossas vidas. Porém, conviver com essa montanha russa de estilos não é fácil...
Adoro conversar com desconhecidos. Nesses “encontros” especiais, já vivi histórias emocionantes. Momentos que me marcaram, e que jamais serão esquecidos.
Em outubro do ano passado, fiz a minha primeira viagem de turismo sozinha. Era outono, numa Europa dourada e friorenta.
Na Espanha, estive, em alguns momentos, com minha família espanhola, e, como sempre, foi muito bom. Em Portugal, encontrei uma Lisboa tranqüila, mesmo em um dia de um grande temporal. Conheci novos amigos, fiz passeios, revi lugares. Em todos os momentos, essa minha vontade de saber mais, descobrir, aprender, essa curiosidade latente, misturada com uma certa timidez, mas que não me impede de ousar e perguntar, me proporciona uma inquietação que me leva além...
Em uma noite solitária, porém repleta de eu mesma, entrei num restaurante tipicamente Português. Era sexta-feira, todas mesas ao redor estavam ocupadas por grupos grandes, famílias, casais...
Eu, na minha “solidão” feliz, mirava o cardápio tentando descobrir o quê me faria mais contente aos sentidos. De repente, ela surgiu. Devia ter uns 30 anos, era uma típica mulher portuguesa, pele alva, poucos lábios, cabelos presos. Perguntou o que eu beberia. Pedi uma sugestão de vinho. Ela sorriu e daí travamos nossa conversa.
Durante todo o jantar, estivemos conversando. Os poucos momentos de ausência dela foram para atender a alguém, mas logo retornava. Falamos de tudo, no início sobre o tempo, depois do Brasil, das minhas origens ibéricas, da imigração, da vida dela, de Angola, onde ela havia nascido, da falta de tempo que ela tinha para namorar, pois trabalhava muito, e, assim, o tempo passou rápido infelizmente...
Chegou a hora da sobremesa, eu já satisfeita, respondi que não.Queria resistir aos maravilhosos doces portugueses, que eu já comprara a quilo , durante o dia, porém ela insistiu. Acabei por aceitar, e lá se foram mais umas 2.000 calorias para esse corpinho, já não tão magro nessa época...rsrsrsr
Hora da conta: Ela, ao meu lado, com a nota na mão. Confiro e surpresa!!! Cadê o valor do doce?
Olho para a minha mais nova amiga de infância, e afirmo; você esqueceu de colocar a minha sobremesa na notinha....!
Senti um olhar tímido, de alguém que não tinha ninguém para conversar, e que naquele momento estava inteira com uma desconhecida, também tão só como ela.
Com a voz baixa, disse que o doce era uma “prenda” dela para mim, pois eu “adoçara” a noite dela com as minhas conversas e alegria. Diante da minha perplexidade, afinal ela era uma profissional, e a gorjeta que eu daria, não cobriria o valor do doce, caro por sinal, disse que não poderia aceitar, pois isso iria causar um prejuízo e ela.
Ela reafirmou que era um presente dela para mim.
Diante desse argumento, acabei por aceitar tamanha gentileza, porém fazendo uma pergunta: como posso retribuir ao seu carinho???
A resposta veio rápida e certeira. Venha mais vezes aqui e converse comigo. Eu só quero isso...
Olhei aquela moça ao pé da minha mesa, tão diferente de mim, mas tão humana como eu. Com uma história de vida totalmente contrária a minha, que passou por dificuldades que eu nunca passei, com um mundo de solidão nas costas, algo que eu nunca senti, e profundamente só, no sentido doloroso da palavra. Levantei, e profundamente emocionada, dei-lhe um abraço forte. Daqueles que ficam na nossa lembrança e memória, pelo aconchego, carinho, emoção, tato, proteção.
Quando nos separamos desse abraço, pude ver que ambas estávamos emocionadas, mesmo tentado disfarçar tais sentimentos, coisa boba que os humanos fazem. Foi um momento único que ficará para sempre.
Depois sai, sem olhar para trás, pois já me doía saber que eu não iria mais voltar...






5 comentários:

Francisco disse...
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soduran484@gmail.com disse...

Quem conhece a Nádia sabe o quanto ela valoriza as pessoas como 'ser'
o texto retrata com perfeição a 'essência' desta mulher, mãe,
amiga, que abre caminhos, que busca o novo, que sonha como criança.
Querida, te agradeço pela amizade.

Felicidades!
bj'sol_*

Wolber Campos disse...

Nádia, que linda história!
Realmente, uma das coisas mais gostosas da vida é essa troca de experiências. Ainda mais quando há uma empatia, o que faz duas pessoas (como vocês) parecerem amigas de infância.
Também não perco a oportunidade de trocar conversas com desconhecidos. Sempre há ótimas experiências.
Muito obrigado pela visita e pelas palavras em meu blog!
Parabéns pelo seu.

Grande abraço!

Unknown disse...

QUE HISTÓRIA LINDA!!!
ADOREI A MANEIRA COMO VOCÊ SE REFERE A UMA PESSOA QUE ACABOU DE CONHECER, REALMENTE UMA ATITUDE DIGNA DE UMA PESSOA COMO VOCÊ. COMO VOCÊ DISSE UMA AMIGA DE INFÂNCIA QUE ACABOU DE CONHECER, FICO IMAGINANDO A SOLIDÃO EM QUE ELA SE ENCONTRAVA, A PONTO DE TE PEDIR PARA VOLTAR. ÀS VEZES DEPARAMOS COM PESSOAS E NEM IMAGINAMOS O QUE ELAS ESTÃO SENTINDO, BASTA UM SORRISO OU UM OLÁ, PARA MUDAR O ESTADO DE ESPIRITO DE ALGUÉM E VOCÊ COM CERTEZA CONSEGUIU.

BEIJOS AMIGA, VC. É REALMENTE FANTÁSTICA.

Francisco disse...

Assim como vc nunca mais esqueceu, com certeza essa moça também lembrará para sempre seu gesto de carinho e amizade.
Beijo.