Tive natais maravilhosos. O natais de infância foram sensacionais, pois fruto da primeira geração da família nascida no Brasil, e já com uma situação financeira boa, eles foram recheados de comida farta, decoração bonita, muitos presentes, e o principal, uma família unida.
O aniversariante era sempre lembrado, pois meu avô português era muito religioso, e missa era obrigatória. Apesar de meu pai, ter se tornado ateu...
Passávamos sempre na casa dos avós paternos, onde jantávamos na mesa grande, cercada dos avós, pais, irmão, tios e primos. Lá iam também alguns vizinhos, todos portugueses, num entra e sai sem parar. Muito vinho, e o impressionante, ninguém ficava bêbado...rsrs
Uma vez comi 25 bolinhos de bacalhau, claro que eram pequenos, mas foram contados pela minha avó, que fritava e eu comia... Depois fiquei anos sem poder olhar para os tais bolinhos...rsrs
Quando tinha adesão de outros amigos portugueses, meu avô colocava a mesa ampliada, no quintal da enorme casa, e lá sentavam muitas pessoas; um jantar luso, com lombo de bacalhau, muito azeite, os tais bolinhos, frango para os que não gostavam de bacalhau, leitão, vinho e sobremesas maravilhosas. Uma verdadeira orgia gastronômica, que minha avó fazia sozinha.
O pinheiro do jardim era enfeitado com flocos de algodão, e eu nem achava aquilo cafona, e corria quando o vento soprava os floquinhos, pra colocá-los no lugar.
Tinha um presépio no jardim, numa casinha de madeira, feita por meu avô. De noite, ele ficava iluminado. Lindo!!!
Ainda posso ouvir o burburinho das vozes, sotaques fortes, eu correndo com os primos - os mais velhos escutando música, e minha avó reclamando do som alto.
Brigas políticas também ocorriam - meu pai, homem de esquerda, contra meu tio, irmão dele, um extremista de direita. Minha avó, sempre ela, aparando as arestas, e mandando pararem com isso, e lembrava do aniversariante... JESUS!
Depois, íamos para casa dos avós maternos espanhóis Lá tudo era mais calmo, pois não havia crianças. Eu e meu irmão éramos os únicos netos, pois meus dois tios não tiveram filhos. Mas uma coisa acontecia quando chegávamos para a ceia de meia noite.Éramos a alegria da “festa”, paparicos por todos os lados, e a “saudável” mentira de que papai Noel já havia passado e deixado os brinquedos lá.
Abria os presentes com gula, sem ainda imaginar que quantas crianças iguais a mim, nada tinham pra comer, nem brincar. Eu, na minha doce ingenuidade, achava que o mundo era bom, e que todos tinham uma família como a minha.
Na madrugada, voltávamos pra casa. Colocava meu sapato na janela, e dormia excitada, imaginando que outras novidades o bom velhinho me traria.
Na manhã seguinte, era de novo festa. Almoço na casa dos avós maternos, e jantar na paterna. Muita comida, afeto, alegria, sonhos, abraços, beijos, e presentes.
O tempo passou. Os netos cresceram, casaram, um bisneto nasceu, meus 3 avós morreram.E o natais foram ficando diferentes.
Também casei, tive filho, e minha avózinha materna, insistindo em fazer o natal em sua casa. Aí resolvi assumir o papel de “matriarca” e fazer nossos natais.
Fiz tudo que tinha direito. Queria oferecer ao meu filhote, os seus melhores natais.Ele filho, neto, e bisneto único, sem fazer dele um menino chato, nem mimado.
Durante anos decorei a casa, como ninguém, coisa de louca mesmo, pois até o quarto dele tinha decoração natalina, com direito a árvore, e tudo mais.
A alegria do meu menino era tudo - iluminava nossas vidas. Ele costumava “roubar” o menino Jesus do presépio da sala e colocá-lo no quarto dele. Lembranças doces.
Contei a ele a história do aniversariante, ele ficou emocionado, e fez muitas perguntas... Como se eu pudesse responder a todas as perguntadas do mundo....
Um dia, ele com uns 5 anos, me chamou pra uma conversa séria. Sentados na cama, ele, com os olhos cheios de lágrimas, me perguntou: Papai Noel existe??? E completou: um amigo da escola, disse que não existe.Diante daquele olhar, resolvi perguntar uma coisa: Você gostaria da verdade, né?
Ele, já com as lágrimas correndo no rosto, balançou a cabeça, que sim...
Olhei aquele rosto lindo em lágrimas, e mentindo, disse que ele existia, pois achei que era a “verdade” que ele queria ouvir. Ele sorriu, limpou o rosto e saiu correndo. Nunca mais me perguntou nada sobre papai Noel. A transição para a descoberta foi tranqüila, ele não mais chorou...
Tempo passou, como sempre... A avó se foi, minha mãe também. O filhote cresceu, mas nos mantivemos firme, união é importante, e lembrar “dele” faz bem a alma.
0s natais passaram a ser mais solidários, eu, dando os brinquedos novos e roupas dele, para orfanatos, e mostrando o outro lado da vida.
Esse ano vai ser a primeira vez que meu filhote vai passar o natal longe. O pássaro está deixando o ninho, preferiu ir viajar com os amigos, pra um outro país.
Assim como os pássaros, vou olhar pra meu ninho vazio e agradecer por ter podido ter a companhia dele durante todos esses anos, mas que agora é hora.
Hora de voar alto, lindo, saudável, sem vícios, educado e com muito amor por nós. Vai meu filhote, descobrir novos caminhos, e lembre-se, pra sempre, dos nossos natais.
Que um dia vc possa reproduzir aqueles natais para seus filhos e se lembre sempre do aniversariante, das coisas que ele pregou, e dessa família que muito lhe ama.
FELIZ NATAL, VINÍCIUS!
O aniversariante era sempre lembrado, pois meu avô português era muito religioso, e missa era obrigatória. Apesar de meu pai, ter se tornado ateu...
Passávamos sempre na casa dos avós paternos, onde jantávamos na mesa grande, cercada dos avós, pais, irmão, tios e primos. Lá iam também alguns vizinhos, todos portugueses, num entra e sai sem parar. Muito vinho, e o impressionante, ninguém ficava bêbado...rsrs
Uma vez comi 25 bolinhos de bacalhau, claro que eram pequenos, mas foram contados pela minha avó, que fritava e eu comia... Depois fiquei anos sem poder olhar para os tais bolinhos...rsrs
Quando tinha adesão de outros amigos portugueses, meu avô colocava a mesa ampliada, no quintal da enorme casa, e lá sentavam muitas pessoas; um jantar luso, com lombo de bacalhau, muito azeite, os tais bolinhos, frango para os que não gostavam de bacalhau, leitão, vinho e sobremesas maravilhosas. Uma verdadeira orgia gastronômica, que minha avó fazia sozinha.
O pinheiro do jardim era enfeitado com flocos de algodão, e eu nem achava aquilo cafona, e corria quando o vento soprava os floquinhos, pra colocá-los no lugar.
Tinha um presépio no jardim, numa casinha de madeira, feita por meu avô. De noite, ele ficava iluminado. Lindo!!!
Ainda posso ouvir o burburinho das vozes, sotaques fortes, eu correndo com os primos - os mais velhos escutando música, e minha avó reclamando do som alto.
Brigas políticas também ocorriam - meu pai, homem de esquerda, contra meu tio, irmão dele, um extremista de direita. Minha avó, sempre ela, aparando as arestas, e mandando pararem com isso, e lembrava do aniversariante... JESUS!
Depois, íamos para casa dos avós maternos espanhóis Lá tudo era mais calmo, pois não havia crianças. Eu e meu irmão éramos os únicos netos, pois meus dois tios não tiveram filhos. Mas uma coisa acontecia quando chegávamos para a ceia de meia noite.Éramos a alegria da “festa”, paparicos por todos os lados, e a “saudável” mentira de que papai Noel já havia passado e deixado os brinquedos lá.
Abria os presentes com gula, sem ainda imaginar que quantas crianças iguais a mim, nada tinham pra comer, nem brincar. Eu, na minha doce ingenuidade, achava que o mundo era bom, e que todos tinham uma família como a minha.
Na madrugada, voltávamos pra casa. Colocava meu sapato na janela, e dormia excitada, imaginando que outras novidades o bom velhinho me traria.
Na manhã seguinte, era de novo festa. Almoço na casa dos avós maternos, e jantar na paterna. Muita comida, afeto, alegria, sonhos, abraços, beijos, e presentes.
O tempo passou. Os netos cresceram, casaram, um bisneto nasceu, meus 3 avós morreram.E o natais foram ficando diferentes.
Também casei, tive filho, e minha avózinha materna, insistindo em fazer o natal em sua casa. Aí resolvi assumir o papel de “matriarca” e fazer nossos natais.
Fiz tudo que tinha direito. Queria oferecer ao meu filhote, os seus melhores natais.Ele filho, neto, e bisneto único, sem fazer dele um menino chato, nem mimado.
Durante anos decorei a casa, como ninguém, coisa de louca mesmo, pois até o quarto dele tinha decoração natalina, com direito a árvore, e tudo mais.
A alegria do meu menino era tudo - iluminava nossas vidas. Ele costumava “roubar” o menino Jesus do presépio da sala e colocá-lo no quarto dele. Lembranças doces.
Contei a ele a história do aniversariante, ele ficou emocionado, e fez muitas perguntas... Como se eu pudesse responder a todas as perguntadas do mundo....
Um dia, ele com uns 5 anos, me chamou pra uma conversa séria. Sentados na cama, ele, com os olhos cheios de lágrimas, me perguntou: Papai Noel existe??? E completou: um amigo da escola, disse que não existe.Diante daquele olhar, resolvi perguntar uma coisa: Você gostaria da verdade, né?
Ele, já com as lágrimas correndo no rosto, balançou a cabeça, que sim...
Olhei aquele rosto lindo em lágrimas, e mentindo, disse que ele existia, pois achei que era a “verdade” que ele queria ouvir. Ele sorriu, limpou o rosto e saiu correndo. Nunca mais me perguntou nada sobre papai Noel. A transição para a descoberta foi tranqüila, ele não mais chorou...
Tempo passou, como sempre... A avó se foi, minha mãe também. O filhote cresceu, mas nos mantivemos firme, união é importante, e lembrar “dele” faz bem a alma.
0s natais passaram a ser mais solidários, eu, dando os brinquedos novos e roupas dele, para orfanatos, e mostrando o outro lado da vida.
Esse ano vai ser a primeira vez que meu filhote vai passar o natal longe. O pássaro está deixando o ninho, preferiu ir viajar com os amigos, pra um outro país.
Assim como os pássaros, vou olhar pra meu ninho vazio e agradecer por ter podido ter a companhia dele durante todos esses anos, mas que agora é hora.
Hora de voar alto, lindo, saudável, sem vícios, educado e com muito amor por nós. Vai meu filhote, descobrir novos caminhos, e lembre-se, pra sempre, dos nossos natais.
Que um dia vc possa reproduzir aqueles natais para seus filhos e se lembre sempre do aniversariante, das coisas que ele pregou, e dessa família que muito lhe ama.
FELIZ NATAL, VINÍCIUS!