terça-feira, 16 de novembro de 2010

CAÇADORA DE BEIJOS

Amo viajar, conhecer novas culturas. Como sou profundamente observadora, nada me escapa. Gosto de ver a vida, dos diferentes de mim, até por achar que, no fundo, todos somos muito iguais, pois sempre buscamos ser felizes, independente da cultura que nascemos. Porém a minha felicidade pode ser diferente do que seria para um esquimó.
Não sou consumista, aliás, sou péssima compradora. Limito-me a ver o artesanato local, algumas lojas bacanas e a comprar perfumes no Duty free.
Quero ver gente, paisagens, conversar, sentir o charme local, comer coisas diferentes, mesmo quebrando a cara...rs
Adoro me perder em vielas, becos, pois sempre descubro algo novo, inusitado.
Muitas vezes, sento em um banco de jardim, outras num bistrôzinho escondido; já fiquei um bom tempo na escadaria da Praça de Espanha, em Roma, sentido as pessoas, observando seus hábitos, modo de falar, suas vidas...
Num inverno infernal da fria Nova York, comecei a perceber que todos os passantes que estavam juntos, nunca demonstravam nenhum ato de carinho. Aí virou obsessão, queria flagrar um beijo, um simples beijo.
Fiquei uma semana na cidade, fui a vários lugares, andei pelas ruas, no Central Parque, grandes lojas, na Estatua da Liberdade, restaurantes, enfim todo roteiro turístico, e não turístico, já que era a primeira vez que meu filho ia à cidade, e eu queria mostrá-lo tudo.
Não consegui “pegar” nenhum beijo, e o pior, nem mãos dadas. Percebi que mesmos os casais, com filhos, pouco se tocavam, e nem as crianças eram beijadas em público.
Sentia que algumas pessoas se namoravam, pelo modo como conversavam, mas mesmo essas não se tocavam, nem se abraçavam. Não consegui uma fagulha de desejo, de sensualidade explícita, de algum toque mais ousado. Logo eu, que falo com as mãos, e vivo tocando meus afetos.
Depois, embarquei para a Disney, continuando meu roteiro infanto/ juvenil, e lá continuei caçadora de beijos, pois era assim que eu me sentia.
Nova desilusão, pois nada de conseguir flagrar um ato de carinho rasgado, um olhar mais fundo, uma mão provocante de uma pessoa apaixonada e cheia de desejos... nada.
Claro que, em todos os Estados Unidos, alguns se beijaram, outros se abraçaram, mas diante dos meus olhos, isso não aconteceu.
Cada cultura tem sua forma de demonstrar amor, afeto, carinho, desejo. Compreendo isso e respeito, porém, para uma lusa/galega/carioca, não abraçar, beijar, demonstrar carinho explícito, é quase uma heresia.
Acho impossível, estar amando, seja namorado, marido, filhos, pais, amigos, sem dar um abraço apertado, uma mexida nos cabelos, um carinho no rosto, um beijo gostoso, na pessoa amada, mas cultura é cultura. Cada um na sua, mas no fundo quem não gosta de carinho inesperado, um sorriso cativante, abraço sem esperar, e até aquela declaração louca, para passantes desconhecidos que se ama aquela pessoa, que está ao nosso lado... rsrsr
Enfim, salve a cultura latina, que consegue demonstrar seus afetos sem maiores pudores.
Bom é beijar sem culpa, andar de mãos dadas, seja em que tempo for, abraçar apertado, e sentir que viver nossos sentimentos com liberdade, ainda é a melhor opção.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

UM GATO CHAMADO ZIDANE



Tive gato na infância, mas precisamente uma gatinha. Ela viveu 8 anos e morreu de forma triste...
Depois disso, apesar de amar os gatos, não quis mais nenhum. De um tempo para cá, comecei a sonhar com gatos, e da sua amorosa companhia a distância, pois são todos muito independentes.
Sempre me senti meio felina, pois adoro estar junto com as pessoas, porém amo ficar só também...
Pensei em adotar, um vira lata. Imaginava toda uma vida nova, com meu gato.
Resolvi escolher um nome, seria ZIDANE, mas chamaria, na intimidade de ZIZU, igual ao jogador francês e charmoso.
O tempo passou e a vontade também. Certas coisas se não acontecem na hora, passa o desejo. ZIDANE ficou numa história não concluída, num sonho não mais sonhado.
Deu preguiça, passou...!
Pra minha surpresa, ZIDANE já existia e fui encontrá-lo bem distante do meu mundo.
Viajei no mês passado, e numa ilha da Grécia, mas precisamente em Santorini, ele estava lá, esperando a vida inteira por mim.
Foi um encontro rápido, mas fulminante. Encontramos-nos num restaurante, ele me viu primeiro, deduzo, pois só o senti quando ele andava pelas minhas pernas, por debaixo da mesa. Levantei a toalha e dei de cara com ele, seu olhar era penetrante, olhar de ZIZU, ele miou. Estaria com fome? Mesmo sendo ali um restaurante??? Tenho que esclarecer uma coisa. É normal, tanto na Grécia, quanto na Turquia gatos e cachorros nas ruas, mas ao contrário do que no Brasil, lá o poder público castra, vacina, mas não os recolhe e a população continua jogando seus animais fora.
Bem, foi paixão à primeira vista, claro que dei comida do meu prato pra ele. Aliás, detesto ração, pois a acho cancerígena. Isso durou todo o tempo do longo almoço. Ele não se afastava de mim. Chegando ao fim, hora da despedida, alisei sua cabeça, bati uma foto, para não esquecer e segui pelas vielas da ilha.
Entrei em vários becos , subi e desci escadas e de repente,olhei para baixo e ele estava lá, me seguindo.Nunca vi gato bicho seguir ninguém...rsrsrs
Não resisti e peguei no colo, ele fechou os olhos, como se tivesse encontrado um porto seguro. O restante do passeio foi com ele no meu colo, e eu me perguntando, e agora que faço com esse amor???
Não queria ver mais nenhuma paisagem, queria saber que fazer com ZIDANE, como poderia embarcar com um gato, sem nenhum dado, sem certificado de vacinas, e ainda tendo cidades para conhecer?
Era uma tortura, aquele amor peludo, lindo, amoroso, estava me fazendo mal.
Eu me perguntava, mas gato é tão independente, que carência é essa ?
Sentei no chão e o soltei, ele ficou a me olhar, com jeito de quem nada estava entendendo, um olhar interrogativo, olhar de quem desconfia que vá ser abandonado...
Conclui que ZIDANE chegou na hora errada na minha vida, não era o momento, não era a minha vontade, não iríamos viver uma história de amor, nem cumplicidade, doação, nem eu poderia cuidar dele, naquele instante...
Deixei ZIZU ir, mas ele não queria, e ficou parado, só me olhando, como se dissesse:
- Você me conquistou e agora me abandona!
Resolvi deixá-lo na porta do restaurante onde ele me encontrou, falei com o atendente, e ele me confirmou que ZIZU, era um gato de rua, mas que eu podia deixar por lá mesmo. Coloquei-o no chão, evitei olhar muito e sumi nos becos, com um medo atroz de ser seguida e não resistir aquele olhar carente de amor.
Agora tenho certeza, ZIDANE existe, mora na Grécia, e será eternamente meu.