domingo, 25 de julho de 2010

AS MÃES DO VINNY

Sou mãe galega quando, mais que severa, exijo o máximo;
Sou mãe portuguesa quando acho que deverias comer mais e melhor;
Sou mãe italiana quando, depois de broncas, te dou milhões de beijos;
Sou mãe judia quando te acho maravilhoso, mesmo não sendo;
Sou mãe brasileira quando afroxo nos limites que deveria dar;
Sou mãe profissional quando, querendo ficar, tenho que ir;
Sou mãe emocionada quando, num gesto inesperado, recebo um beijo teu;
Sou mãe torcedora boba quando, na arquibancada, me ofereces teu gol;
Sou mãe admirada quando te vejo tão grande, sendo ainda, tão pequeno;
Sou mãe preocupada quando, diante do nosso mundo, temo por ti;
Sou mãe feliz quando flagro suas pequenas descobertas e realizações;
Sou mãe cobradora, brincalhona, doadora, batalhadora, que, quando te vê, se vê criança novamente;
Sou mãe bicho, que lambe a cria, quando assisto, ainda encantada, seu sono tranquilo;
Sou mãe possessiva, mesmo sabendo, que apesar de seres meu, não me pertences;
Sou mãe realista quando te vejo tão parecido comigo, mesmo sendo tão diferente;
Sou mãe repleta de defeitos com vontade enorme de acertar sempre, mesmo sabendo ser impossível;
Sou mãe lúcida e forte, que enlouquece diante de uma doença tua;
Sou mãe tão diferente das outras, mas exatamente igual a todas, insegura, persistente, observadora, chata, mas com uma capacidade infinita de te amar.

* Agosto de 1999


* Vinícius tem hoje 18 anos, é universitário de engenharia , amigo, digno, correto, enfim um presente da vida para todos nós...


terça-feira, 20 de julho de 2010

TUDO JUNTO E MISTURADO

Sempre achei que somos um mosaico de contradições, e que isso faz um bem danado pra o enriquecimento das nossas vidas. Porém, conviver com essa montanha russa de estilos não é fácil...
Adoro conversar com desconhecidos. Nesses “encontros” especiais, já vivi histórias emocionantes. Momentos que me marcaram, e que jamais serão esquecidos.
Em outubro do ano passado, fiz a minha primeira viagem de turismo sozinha. Era outono, numa Europa dourada e friorenta.
Na Espanha, estive, em alguns momentos, com minha família espanhola, e, como sempre, foi muito bom. Em Portugal, encontrei uma Lisboa tranqüila, mesmo em um dia de um grande temporal. Conheci novos amigos, fiz passeios, revi lugares. Em todos os momentos, essa minha vontade de saber mais, descobrir, aprender, essa curiosidade latente, misturada com uma certa timidez, mas que não me impede de ousar e perguntar, me proporciona uma inquietação que me leva além...
Em uma noite solitária, porém repleta de eu mesma, entrei num restaurante tipicamente Português. Era sexta-feira, todas mesas ao redor estavam ocupadas por grupos grandes, famílias, casais...
Eu, na minha “solidão” feliz, mirava o cardápio tentando descobrir o quê me faria mais contente aos sentidos. De repente, ela surgiu. Devia ter uns 30 anos, era uma típica mulher portuguesa, pele alva, poucos lábios, cabelos presos. Perguntou o que eu beberia. Pedi uma sugestão de vinho. Ela sorriu e daí travamos nossa conversa.
Durante todo o jantar, estivemos conversando. Os poucos momentos de ausência dela foram para atender a alguém, mas logo retornava. Falamos de tudo, no início sobre o tempo, depois do Brasil, das minhas origens ibéricas, da imigração, da vida dela, de Angola, onde ela havia nascido, da falta de tempo que ela tinha para namorar, pois trabalhava muito, e, assim, o tempo passou rápido infelizmente...
Chegou a hora da sobremesa, eu já satisfeita, respondi que não.Queria resistir aos maravilhosos doces portugueses, que eu já comprara a quilo , durante o dia, porém ela insistiu. Acabei por aceitar, e lá se foram mais umas 2.000 calorias para esse corpinho, já não tão magro nessa época...rsrsrsr
Hora da conta: Ela, ao meu lado, com a nota na mão. Confiro e surpresa!!! Cadê o valor do doce?
Olho para a minha mais nova amiga de infância, e afirmo; você esqueceu de colocar a minha sobremesa na notinha....!
Senti um olhar tímido, de alguém que não tinha ninguém para conversar, e que naquele momento estava inteira com uma desconhecida, também tão só como ela.
Com a voz baixa, disse que o doce era uma “prenda” dela para mim, pois eu “adoçara” a noite dela com as minhas conversas e alegria. Diante da minha perplexidade, afinal ela era uma profissional, e a gorjeta que eu daria, não cobriria o valor do doce, caro por sinal, disse que não poderia aceitar, pois isso iria causar um prejuízo e ela.
Ela reafirmou que era um presente dela para mim.
Diante desse argumento, acabei por aceitar tamanha gentileza, porém fazendo uma pergunta: como posso retribuir ao seu carinho???
A resposta veio rápida e certeira. Venha mais vezes aqui e converse comigo. Eu só quero isso...
Olhei aquela moça ao pé da minha mesa, tão diferente de mim, mas tão humana como eu. Com uma história de vida totalmente contrária a minha, que passou por dificuldades que eu nunca passei, com um mundo de solidão nas costas, algo que eu nunca senti, e profundamente só, no sentido doloroso da palavra. Levantei, e profundamente emocionada, dei-lhe um abraço forte. Daqueles que ficam na nossa lembrança e memória, pelo aconchego, carinho, emoção, tato, proteção.
Quando nos separamos desse abraço, pude ver que ambas estávamos emocionadas, mesmo tentado disfarçar tais sentimentos, coisa boba que os humanos fazem. Foi um momento único que ficará para sempre.
Depois sai, sem olhar para trás, pois já me doía saber que eu não iria mais voltar...






terça-feira, 13 de julho de 2010

O QUE RESTA DO TEMPO




Amanheceu, e ela continuava prostada na cama...
No corpo, as marcas suaves do amor da madrugada. O cheiro dele no corpo sem o banho do depois. Olhou com carinho aquele homem maduro, cabelos já grisalhos, marcas delicadas em um rosto, com um sorriso ainda de menino...
Ele dormia, sem roupa, por baixo do edredon. Ainda com restos de desejo, levantou levemente e ficou a observar o corpo amado.
Anos tinham se passado desde a data quando se conheceram. A paixão tão depressa, os receios tolos pela diferença de idade, as brigas por ciúmes, a falta de confiança por causa do jeito sedutor dela, até as fotos de biquíni ele odiava. Pelo seu lado, ela ficava insegura quanto ao passado dele. Alguns amores que deixaram marcas, e o ciúmes, idiota, do passado, presente e futuro dele.
Lembrou-se de um encontro depois de uma briga, das pazes feitas pelo telefone e do reencontro. De repente ele estava ali, na frente dela, com um sorriso aberto e uma vontade intensa de sentir o cheiro tão conhecido, que tanto prazer lhe dava. Um abraço, um longo beijo, e depois direto no pescoço pra sentir a alma desse amor.
O abraço deles tinha gosto de proteção. Porém, não o de uma proteção unicamente dele. Ao invés disso, era algo mútuo e compartilhado, o qual ambos dividiam.
O tempo deu confiança. Ela não mais temia os ex-amores dele. Ele não mais “morria”, quando um outro homem olhava para ela. Contudo, algo não mudará: o desejo.
Cada vez sentiam mais e mais. Mesmo nos momentos de grandes brigas, não conseguiam deixar de se tocar, e enfim, de se amar... Nesses momentos, ela dizia que não fazia amor com ele, mas, sim, sexo, e dos bons. Apesar da raiva, até das magoas, era incontrolável não se buscarem.
Ela bem sabia como ele se tornava menino. Em determinados momentos de intimidade, ele se entregava por completo aos prazeres loucos, e, assim, a relação deles era cada vez mais íntima. Uma vida onde não existia homem/mulher, mas, sim, dois seres que se buscam e se desejam feito bichos selvagens, ternos e amorosos, no relaxamento do depois do amor...
Das loucuras que ainda faziam, a vontade de conversar sem parar, os passeios de mãos dadas, a cabeça dele pousada no colo dela, daquele olhar que a despia toda, durante um jantar na casa de amigos, num convite imoral de ir para casa mais cedo, o acordar durante a madrugada querendo o corpo do outro.
A necessidade de se devorarem em chamas, encostados na paredes e vibrarem com os cheiros dos seus sexos, coisa de instinto primitivo e tão adorado por eles.
As noites inteiras e todas as fantasias tão íntimas que os dois viviam. Como seus corpos fossem, ainda, um porto seguro para os dois. . Seria isso normal, depois de todo esse tempo???
Pousou o edredon nos ombros dele, levantou da cama, foi ao espelho, se olhou atentamente, percebendo que esse amor lhe fazia bem.Que aqueles medos do passado foram provas a serem ultrapassadas, para poderem viver toda essa história.
Amor que superou a gênio furioso dele, o jeito dissimilado dela que tanto incomodava a ele, e que naquele momento eles podiam usufruir.
Talvez estivesse escrito na palma das mãos deles, ou quem sabe nas estrelas, só que eles tiveram a coragem de viver e enfrentar .
Quando existe um grande amor, ele sempre assusta, mas cabe aos loucos, corajosos e apaixonados viverem isso...